Resumo
A Insuficiência Cardíaca (IC) continua um grande problema de saúde pública mundial, com cerca de 30 a 40% dos pacientes falecendo após um ano do diagnóstico inicial da doença, tanto no Brasil quanto no mundo. A biologia molecular tem detectado genomas virais, Borrelia burgdorferi e Chlamydophila pneumoniae em grande parte dos casos de miocardite linfocitária e cardiomiopatia dilatada (CMD). Entretanto,a incidência e a quantidade de agentes infecciosos têm sido muito variáveis, possivelmente devido a diferenças técnicas (modo de extrair o DNA, tipo primers utilizado, temperatura, etc), mais do que a diferenças epidemiológicas. A utilização de múltiplas técnicas de diagnóstico (pesquisa morfobiomolecular), envolvendo morfologia pela microscopia eletrônica, detecção do antígeno pela imunohistoquímica e o DNA pelo PCR real time ou hibridização in situ deve fornecer resultados mais confiáveis. Em trabalho prévio, estudando pacientes chagásicos ou com CMD, identificamos pela microscopia eletrônica e biologia molecular, além de microrganismos com morfologia concordante com os agentes referidos acima, micropartículas revestidas por dupla membrana compatíveis com arquéias patogênicas Formulamos a hipótese de que elas sejam indutoras de inflamação e de virulência de microrganismos co-infectantes, podendo em parte corresponder às das micropartículas (MPs) muito encontradas no soro de pacientes com insuficiência cardíaca (IC). A favor desta hipótese, trabalho nosso ainda não publicado mostrou no soro de pacientes chagásicos com IC maior quantidade de micropartículas eléctron lucentes maiores do que 100nm, em associação com grande quantidade de enzima colagenase derivada de arqueia (AMZ), do que no grupo de forma indeterminada. Os objetivos do presente trabalho são: 1. Melhorar a sensibilidade e especificidade no diagnóstico de agentes infecciosos presentes no miocárdio de pacientes com insuficiência cardíaca por Cardiomiopatia dilatada idiopática ou suspeita de miocardite linfocitária idiopática utilizando a pesquisa morfo-biomolecular. 2. Verificar se os agentes infecciosos detectados na biópsia se correlacionam com micropartículas com DNA de arqueia e/ou a colagenase de arqueia AMZ1 pela hibridização in situ e imunohistoquimica na microscopia eletrônica. 3. Procurar se micropartículas com DNA e enzima de arqueia estão também presentes no soro e se correlacionam com a presença no coração. 4. Comparar com miocárdio "normal" de doadores de órgão e de necropsias do IML e se correlacionam com reação inflamatória (linfócitos, macrófagos, HLA-DR/DP/DQ). 5. Analisar se o paciente transplantado cardíaco mostra aumento de agentes infecciosos em comparação ao que está presente no coração "normal" do doador, ou no coração explantado, examinando as biópsias pós-transplante. 6. Analisar dos casos do item 5 que evoluíram com rejeição, se a pulsoterapia (carga alta de corticoide) faz regredir alguns dos agentes infecciosos. METODOLOGIA: Serão avaliados fragmentos de miocárdio e soro de 4 grupos de indivíduos: GI - 20 pacientes IC por CMD, miocardite linfocitária ou miocardite borderline submetidos a transplante cardíaco no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP e com biópsia do coração explantado. GII - 10 fragmentos de miocárdio de coração normal provenientes de necropsias por morte acidental (do IML). GIII - 20 biópsias do coração do doador dos pacientes do grupo I, retirados durante ato cirúrgico. GIV - biópsias de acompanhamento dos pacientes do grupo GI após transplante cardíaco durante até 6 meses. (AU)