Resumo
Os sirênios são mamíferos aquáticos herbívoros monogástricos, de distribuição tropical e subtropical, sendo que no Brasil, há ocorrência de duas espécies: Trichechus inunguis ou peixe-boi amazônico, ocorrente em toda Bacia Amazônica e Trichechus manatus manatus ou peixe-boi das Antilhas, que habita sistemas costeiros e rios tropicais e subtropicais na zona da costa Atlântica oeste das Bahamas ao Brasil. Ambas são classificadas como espécies vulneráveis pela IUCN Red List e constantes na "Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção" como em perigo de extinção. Dentre as ameaças às espécies podem-se destacar principalmente aquelas relacionadas às pressões antrópicas, tais como caça, captura incidental em redes de pesca e redução de habitat, além da ocorrência de infecções por microrganismos patogênicos. Enfermidades transmissíveis de origem viral, bacteriana, parasitária e fúngica vêm sendo descritas em diversas espécies de mamíferos aquáticos em várias localidades geográficas, com potencial de causar quadros clínicos severos e declínios populacionais. Em sirênios, contudo, informações a respeito da ocorrência destas enfermidades ainda são escassas no Brasil. Em virtude da urgência em se obter informações sistematizadas e abrangentes sobre peixe-boi Amazônico e peixe-boi marinho, visando ao aumento de suas populações selvagens no Brasil, foi elaborado o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Sirênios (PAN Sirênios) pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que dentre suas metas, almeja a obtenção de informações sanitárias sistematizadas destas duas espécies ímpares de mamíferos aquáticos, como maneira de garantir a saúde de animais mantidos em cativeiro em centros de reabilitação e também de populações de vida livre, sejam reintroduzidas ou não. Assim, o objetivo desta proposta é realizar uma triagem diagnóstica para investigar a ocorrência de microrganismos patogênicos em sirênios das espécies T. manatus manatus e T. inunguis procedentes de cativeiro e de vida livre, oriundos de programas de manutenção, reabilitação e reintrodução na natureza destes animais, nas regiões Nordeste e Norte do Brasil. Serão obtidas amostras de sangue, soros, swabs e fezes de animais vivos, bem como fragmentos de tecidos no caso de animais que vierem a óbito para a pesquisa de infecções pelos seguintes patógenos: Brucella, Mycobacterium, Leptospira, Campylobacter, Helicobacter, paramixovírus, vírus da hepatite E, microsporídios, protozoários sarcocistídeos, Giardia e Cryptoporidium. Serão utilizados métodos sorológicos, microbiológicos, moleculares e exames coproparasitológicos para a pesquisa dos patógenos mencionados. As provas moleculares empregadas permitirão detectar ampla variedade de agentes dentro de um grupo ou nível taxonômico de patógenos, sendo realizada a genotipagem para obtenção de informação precisa sobre qual o gênero ou espécie investigada. A análise dos resultados será baseada no cálculo da frequência de ocorrência das infecções causadas pelos microrganismos pesquisados. O resultado da investigação dos patógenos elencados neste trabalho poderá fornecer subsídios para avaliar o potencial dos mesmos em causar enfermidade e mortalidade em populações de vida livre e de cativeiro nas regiões abordadas, bem como para propor um protocolo diagnóstico que seja capaz de aferir de maneira eficiente o estado sanitário dos animais. Estes resultados podem ainda auxiliar no estabelecimento de um protocolo para monitoramento sanitário de populações selvagens e de cativeiro, auxiliando no atendimento de outras metas previstas no PAN Sirênios, que objetivam criar um sistema de informação e acompanhamento dos sirênios mantidos em cativeiro no Brasil, realizar a soltura dos peixes-boi marinhos reabilitados e realizar o monitoramento dos peixes-boi marinhos reintroduzidos. (AU)