Resumo
Os estágios precoces do período pós-colisional do Ciclo Brasiliano/Panafricano na porção leste de Santa Catarina (ca. 630-620 Ma), sul do Brasil, são marcados por grandes maciços graníticos com rochas básicas associadas. O magmatismo precoce é constituído por uma série de associações plutônicas de monzo- e sienogranitos, com abundantes enclaves máficos microgranulares e diques sinplutônicos, interpretados como produtos de co-mingling, e corpos menores de gabros e dioritos contemporâneos. As relações de campo definem uma ordem cronológica dos eventos magmáticos, onde os plútons graníticos representam diversos pulsos magmáticos que foram intrudidos por magmas híbridos e máficos antes de sua completa cristalização. O plutonismo foi controlado em sucessivas etapas por uma descontinuidade de escala litosférica, o Cinturão de Cisalhamento Sul-brasileiro (CCSb), e compreende diversas zonas de cisalhamento anastomosadas, de espessura quilométrica e cinemática dominantemente transcorrentes. Condições de temperatura compatíveis com as da fácies xistos verdes a anfibolito inferior foram identificadas nas zonas de maior intensidade da deformação, como na Zona de Cisalhamento Major Gercino, onde calor foi periodicamente trazido por conseqüência da atividade magmática continuada. O magmatismo neoproterozóico precoce é assim definido como sin-transcorrente, e microestruturas indicativas de deformação do estado sólido de alta temperatura são descritas nas rochas básicas e graníticas. As rochas básicas têm afinidade toleítica médio a alto-K e mostram feições mineralógicas, geoquímicas e isotópicas, que se assemelham às dos basaltos alto-Ti-P da Formação Serra Geral. Seus altos conteúdos de K, Rb, Sr e Ba, bem como as anomalias negativas de Nb e Ta nos diagramas multielementares, indicam fontes mantélicas enriquecidas em ETRL e modificadas por subducção prévia, o que é coerente com o seu caráter pós-colisional. Os granitóides resultam de uma interação de magmas toleíticos com materiais crustais em diferentes proporções, e assim podem ser considerados como de afinidade toleítica. O papel da tectônica transcorrente parece ser essencial para promover a geração de magmas de derivação mantélica e sua interação com material crustal, com subseqüente geração de abundantes granitóides. A semelhança composicional desses granitóides com os granitos do tipo-A os diferencia dos granitóides médio a alto-K de arcos magmáticos maturos, e esta diferença provavelmente reflete o caráter toleítico de seus magmas primários, típicos dos estágios magmáticos precoces do ambiente pós-colisional. O presente projeto propõe investigar a origem, diversidade e controle tectônico do magmatismo pós-colisional precoce do sul do Brasil, procurando elucidar a relação entre fontes crustais e mantélicas e o papel da tectônica na origem dos magmas graníticos e na evolução destas associações petrotectônicas. O foco do projeto está na identificação das diversas fontes envolvidas na geração do magmatismo básico e ácido contemporâneo do estágio pós-colisional precoce, com ênfase na investigação dos processos de mistura ocorrentes sob a atividade de campos tensionais com diferentes magnitudes. Estudos detalhados serão conduzidos em associações de rochas félsicas e máficas contemporâneas situadas em regiões de baixa e alta deformação (Porto Belo, Garopaba-Paulo Lopes e Camboriú), todos relacionados a diferentes segmentos da Zona de Cisalhamento Major Gercino, no Estado de Santa Catarina. O estudo comparativo destas ocorrências, combinando ferramentas de geologia estrutural (estudos de campo em detalhe em áreas selecionadas, petrografia e análise microestrutural) e geoquímica (análises de elementos maiores e traços em rochas e minerais e isotopia Sr-Nd), permitirá identificar e quantificar os processos e fontes envolvidos na geração e evolução das associações plutônicas básico-ácido do magmatismo pré-colisional precoce. (AU)
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