Resumo
Durante grande parte do século XIX, no Rio de Janeiro, a expressão musical de maior difusão foi o teatro lírico, difusão essa iniciada em grande medida a partir da chegada de Dom João VI à cidade, quando foram fundadas importantes instituições relacionadas à arte musical, como a Capela Real e o Real Teatro São João. A música produzida na Capela Real era influenciada em grande medida pela estética operística, uma vez que um de seus diretores era um compositor do gênero, Marcos Portugal. Esse predomínio do teatro lírico tornou-se uma constante dentro do cenário musical carioca, e culminou na fundação da Imperial Academia de Música e Ópera Nacional, que funcionou de 1857 até 1863. Através dessa instituição, foram encenadas algumas óperas nacionais, óperas essas com características pedagógicas e nacionalistas. No entanto, a nacionalização empreendida voltava-se apenas para aspectos extra-musicais, ou seja, autores, temas e a língua na qual o libreto era composto. A música propriamente dita, seguia padrões exclusivamente europeus, com modelos, aliás, semelhantes aos já praticados em cantatas compostas no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XIX. Desse modo, através das regularidades observadas nos textos selecionados, a presente pesquisa tem por objetivo principal analisar qual a idéia de nação construída pelo teatro lírico. Para tanto, selecionamos crônicas e artigos publicados por intelectuais no período e que discorram sobre a atividade musical, bem como libretos e outros textos pertencentes ao gênero do teatro lírico. A hipótese que servirá como eixo norteador desse trabalho é a de que a aparente contradição de uma nacionalização que não alcança a música propriamente dita, voltando-se apenas para aspectos extra-musicais, encontra justificativa no estatuto da música e sua inserção dentro de um cenário cultural mais amplo, inclusive com pontos de convergência com outras esferas artísticas.
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