Resumo
Fissura labial com ou sem fissura no palato (FL/P) é a malformação facial mais comum ao nascimento e sua incidência varia entre as populações. Em populações de ancestralidade européia, por exemplo, a incidência é, em média, de 1:1000 nascimentos. entretanto, os menores valores são observados em populações de ancestralidade Africana (0.3:1000). É uma doença complexa de herança multifatorial, na qual tanto fatores genéticos quanto ambientais estão envolvidos.As FL/Ps podem ser classificadas clinicamente em sindrômicas ou não-sindrômicas. Dentre as sindrômicas, a Síndrome de Van der Woude é a mais freqüente. Recentemente, demonstrou-se que mutações no gene Interferon Regulatory Factor 6 (IRF6), no cromossomo 1, são responsáveis pela grande maioria dos casos dessa síndrome. Este gene parece também estar envolvido com a predisposição às FL/Ps não-sindrômicas (formas que constituem cerca de 70% do total de casos de fendas orofaciais), uma vez que vários grupos observaram que polimorfismos no IRF6 aumentam o risco de ocorrência das FL/Ps não-sindrômicas.A abordagem mais utilizada para a investigação de genes associados a doenças é o estudo de caso-controle, no qual se procura identificar se a freqüência de variantes polimórficas difere entre o grupo de pacientes e controles. Um dos problemas desta abordagem, contudo, é o da estratificação populacional em função da mistura étnica, que é uma das características da população brasileira. Torna-se, portanto, difícil utilizar a metodologia de caso-controle na nossa população para estudo de doenças complexas. Com o intuito de identificarmos os fatores genéticos de predisposição a esta malformação na nossa população, estamos propondo o uso da abordagem admixture mapping. Nela, a miscigenação racial é um fator vantajoso para a identificação de alelos que podem corresponder a locos candidatos de susceptibilidade para as FL/Ps não-sindrômicas. Poderemos verificar, sobretudo, se alelos localizados no gene IRF6 estão associados à predisposiação de fissuras lábio-palatinas na população brasileira. No presente estudo, procuraremos regiões no cromossomo 1 que contenham alelos de predisposição a essas malformações utilizando-se de marcadores de ancestralidade do tipo indel (inserção/deleção), além de quatro polimorfismos no gene IRF6.
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