Resumo
A presente pesquisa se detém sobre o declínio da demonologia. Ao longo da Idade Moderna, a demonologia foi um saber em emergência, expresso por meio de tratados, panfletos, sermões e iconografias, e em constante diálogo com a caça às bruxas. Durante séculos, ela se configurou como um importante recurso intelectual, rearranjando tradições do conhecimento, como certos doutores da Igreja, especialmente Tomás de Aquino, e determinados filósofos naturais, de Aristóteles e Avicena a Bacon e Descartes. Mas além de reunir autoridades do saber, a demonologia na Idade Moderna colecionava experiências imediatas da ação das bruxas e demônios, auferindo dos julgamentos de bruxas, ora de modo direto, ora indireto, os indícios concretos da realidade de suas proposições. Firmada na certeza religiosa da existência de Deus e, conseqüentemente, do Diabo, a demonologia se constituía em duas dimensões, ora tratando de forma abrangente dos conhecimentos humanos, ora dizendo respeito aos obstáculos encontrados na prática da perseguição institucional às bruxas. Desse modo, enraizada tão firmemente, a demonologia perdurou diante das mais veementes críticas, como as de Johann Weyer, Reginald Scot e até mesmo Balthasar Bekker, pois para desacreditá-la em sua totalidade era necessário dissolver a cosmovisão que a sustentava desde o final da Idade Média. E assim teria se dado, transformações abrangentes e profundas elaboraram, entre os séculos XVII e XVIII, uma nova concepção de mundo que se encontraria formulada na Ilustração. Considerando os pressupostos que sustentavam a demonologia e a maleabilidade dessa ciência, capaz de se adequar a diversas filosofias e reunir muitas experiências imediatas, tem-se por problemática dessa pesquisa a investigação de como as obras de demonologia expressaram as transformações históricas que lhe deram cabo.Delineou-se como aporte dessa problemática a investigação das controvérsias filosófico-religiosas presentes nos escritos demonológicos ingleses. A Inglaterra nesse período, entre meados do XVII e as primeiras décadas do XVIII, foi primeiramente palco de radicais controvérsias (sociais, políticas, religiosas e filosóficas) durante anos de revoltas, guerras civis e revoluções, e posteriormente, a partir da Restauração e da ascensão da Casa de Hanover, de compromissos em prol de alguma estabilidade social e econômica. Durante essas décadas a demonologia acompanhou as controvérsias inglesas, controvérsias essas consideradas importantíssimas, de acordo com Paul Hazard e Franco Venturi, na emergência da Ilustração na Europa. Desse modo, intenta-se lidar com o declínio da demonologia e o alvorecer das Luzes na Inglaterra e na Europa a partir da seguinte documentação, disponível no endereço http://dlxs2.library.cornell.edu/w/witch/index.html: Leviathan (1651, Thomas Hobbes); Of credulity and incredulity in things divine and spiritual (1670, Meric Causabon); The question of witchcraft debated (1671, John Wagstaffe); The displaying of supposed witchcraft (1677, John Webster); Saducismus triumphatus (1688, Joseph Glanvill); The Kingdom of Darkness (1688, Nataniel Crouch); A modest enquiry into the nature of witchcraft (1702, John Hale); A full confutation of witchcraft (1712, anônimo); The impossibility of witchcraft (1712, anônimo), A system of magick (1727, Daniel Defoe).
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