Resumo
Nesta pesquisa partimos da observação de que, em distintas abordagens, diferentes memórias sobre os tempos ditatoriais são resgatadas na atualidade. Por um lado, a não abertura de documentos referentes ao período de ditadura militar no Brasil e a recusa em revisar a lei de anistia, e por outro a constante retomada, por meio de reedições e coletâneas de matérias da mídia dita "alternativa", bem como a grande quantidade de "especiais", matérias que revelam "novos" fatos daquele período, além de documentários, filmes e especiais televisivos, evidenciam um confronto discursivo que instaura a construção de uma memória pela mídia inscrita entre o democrático (a possibilidade de "dizer tudo") e o silêncio (o dizer à margem). Por meio da análise de textos enraizados no período ditatorial, como a mídia independente, mas que são constantemente retomados, reeditados e publicados atualmente (como exemplo, os jornais O Pasquim e Ex-); de edições especiais de revistas e jornais da segunda metade da primeira década do século XXI que tratam de fatos referentes àquele período, além de especiais televisivos (documentários, filmes e entrevistas), o presente trabalho pretende, com base nas proposições teóricas da Análise do Discurso de linha francesa em consonância com os estudos da Nova História e de uma abordagem pelos estudos da mídia, investigar e compreender o papel da memória na produção e (re)construção da história do período em que o Brasil esteve sob ditadura militar. Com isso, esta pesquisa objetiva investigar: a) o funcionamento discursivo da mídia dita alternativa na produção de sentidos de resistência, inscritos no humor e no sarcasmo, durante a ditadura militar brasileira; b) as mudanças de sentido que se estabelecem a partir da retomada e reedição de tais materiais já no século XXI; c) o funcionamento de discursos que circulam em um entrelugar e sua importância para a construção de uma história de determinado período; d) o papel da memória na contemporaneidade, cuja mídia articula práticas discursivas inscritas em um jogo intersemiótico, que relaciona o verbal e o não verbal e, como consequência, o efeito discurso na produção de memórias calcadas em diferentes linguagens. (AU)
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