Resumo
A memória depende diretamente do tempo para se constituir e o tempo depende da memória para poder permanecer. É por meio da relação do indivíduo com o tempo que ele constrói a memória, possibilitando a preservação da sua identidade e a constituição da sabedoria. No romance Grande sertão: veredas de Guimarães Rosa, essa experiência temporal humana é-nos apresentada e veiculada por meio da rememoração do protagonista. No livro, verifica-se que a relação entre memória e tempo é indispensável para a construção da identidade da personagem que relata e para o desenrolar da narrativa. A viagem ao passado realizada por Riobaldo constitui a tentativa de encontrar a si mesmo por meio do que decorreu e ela apenas se torna possível com o uso da memória. O trabalho a ser desenvolvido tem como objetivo examinar como ocorre a relação entre tempo e memória em Grande sertão: veredas e qual a sua importância para a narrativa, para o processo de reconstrução do vivido e para a constituição da identidade do narrador-protagonista, Riobaldo. Para alcançar tais objetivos, a metodologia adotada baseia-se no levantamento, na seleção, na leitura e no fichamento de dois tipos de textos: a obra de Guimarães Rosa, em especial o romance escolhido, e estudos que compõem o embasamento teórico da pesquisa agrupados em três dimensões: a) ensaios críticos sobre a obra rosiana em geral, como os de Antonio Candido, Cavalcanti Proença, Walnice Nogueira Galvão e Willi Bolle, e sobre o tema em pauta, como os de Donaldo Schüler e Jean-Paul Bruyas; b) proposições sobre as categorias narrativas, especialmente sobre o tempo, como os estudos de Gérard Genette em Discurso da narrativa; c) proposições filosóficas e/ou psicológicas sobre a memória e o tempo, tendo como base a obra de Henri Bergson, Matéria e memória, e a de Martin Heidegger, Ser e tempo. (AU)
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