Resumo
A celulose presente nas matérias-primas vegetais pode ser enzimaticamente convertida em glicose. No entanto, a parede celular dos materiais lignocelulósicos é recalcitrante, de forma que para que a hidrólise enzimática seja satisfatória, pré-tratamentos físicos e químicos são necessários. Apesar de muitos pré-tratamentos terem sido desenvolvidos nas últimas décadas, dificilmente a digestão da celulose é completa. Uma possível explicação é a presença da lignina residual, que pode limitar a ação das enzimas hidrolíticas. Durante esses pré-tratamentos, pode ocorrer a fusão da lignina e essa pode redepositar em diferentes regiões da parede celular, alterando a acessibilidade das enzimas ou adsorvendo-as improdutivamente. Alguns trabalhos também mostram que compostos de baixa massa molar, derivados da lignina, são capazes de inibir competitivamente as enzimas do complexo celulolítico, dependendo de sua concentração. Nesse projeto, pretende-se estudar esses efeitos, utilizando ligninas e compostos aromáticos provenientes de bagaços de cana-de-açúcar pré-tratados com ácido sulfúrico diluído, sulfito ácido, hidróxido de sódio e sulfito alcalino. Os diferentes pré-tratamentos serão avaliados quanto às suas propriedades adsortivas e inibitórias da lignina gerada em cada um deles, dependendo das suas características físico-químicas. As ligninas serão utilizadas para impregnar o córtex de cana-de-açúcar parcialmente deslignificado por processo químico seletivo com clorito de sódio em meio ácido. Esse procedimento será feito para simular a redeposição da lignina na parede celular, restabelecendo a concentração de lignina originalmente presente no córtex da cana. A distribuição topoquímica da lignina após a impregnação será acompanhada por microespectrofotometria UV. O córtex impregnado será hidrolisado com celulases comerciais para avaliar o grau de hidrólise da celulose e relacionar com a distribuição da lignina na parede celular. A área superficial dessas amostras será determinada pela técnica de Simons e a adsorção de celulases será medida pelo teste da ninidrina. A partir dos bagaços pré-tratados, serão preparadas soluções contendo compostos aromáticos, as quais serão utilizadas em ensaios de inibição das enzimas do extrato comercial, isoladas e combinadas. O potencial inibitório desses compostos também será analisado durante a hidrólise enzimática da celulose. Com os resultados obtidos, pretende-se inferir sobre os modos pelos quais ligninas de diferentes pré-tratamentos afetam o grau de hidrólise da celulose presente na cana-de-açúcar. (AU)
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