Resumo
Os morcegos são capazes de viver em grandes centros urbanos, explorando os recursos, como insetos e abrigos, que ficam disponíveis na paisagem. Nem todas as espécies conseguem de fato sobreviver nesse ambiente. Diferentes fatores podem determinar, direta ou indiretamente, a composição de quirópteros (riqueza e abundância) e as taxas de atividades (frequência de uso) nos vários hábitats que compõem a paisagem urbana, entre eles os níveis de poluição sonora. Os ruídos sonoros de ampla faixa de frequência são liberados diariamente nas cidades (e.g. tráfego intenso de veículos em ruas e avenidas). Considerando que os quirópteros, de maneira geral, compreendem o ambiente e capturam seus alimentos com o auxilio da ecolocalização, é esperado que o excesso de ruídos, em algum instante, interfira no processo de captação e interpretação das ondas sonoras pelos indivíduos. Nesse sentido, experimentos verificaram que o excesso de ruídos de fato atrapalha a percepção de determinadas espécies de morcegos, mascarando os sons que são emitidos pelas presas. Em alguns casos, as espécies até conseguem adequar as suas vocalizações aos altos níveis de barulho no ambiente. Para isso, elas passam a emitir sons mais intensos e de alta frequência com o propósito de destacá-los daqueles que são os ruídos indesejados. Isso remete a um maior gasto energético por parte do indivíduo, o que pode prejudicá-lo. No caso das espécies que não conseguem se adequar a presença de ruídos, estudos sugerem que elas passam a usar os grandes fragmentos de floresta localizados dentro das cidades, ou então migram para regiões periurbanas mais tranquilas. O fato é que existem poucos dados interpretando os efeitos da poluição sonora nas comunidades de quirópteros (quase nada para a região Neotropical). Grande parte deles são informações obtidas para algumas poucas espécies de morcegos em cativeiro. Assim, o presente estudo pretende investigar os efeitos da poluição sonora (áreas com altos e baixos níveis de ruídos) em uma comunidade de quirópteros urbanos, constatando diferenças: a) na riqueza de quirópteros; b) nos padrões de vocalização das diferentes espécies (intensidade, faixa de frequência e intervalos entre os guinchos); e c) na intensidade de uso das parcelas amostrais (número de passagens e tempo de permanência). (AU)
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