Resumo
A hipertensão arterial essencial afeta em torno de 35% da população brasileira acima dos 40 anos de idade e está fortemente associada ao elevado risco de eventos cardiovasculares graves. Afeta diversos órgãos, como o coração, vasos sanguíneos, e rins, além de alterar a modulação autonômica cardiovascular levando a uma hiperatividade simpática, e redução da atividade eferente vagal. Evidências clínicas têm demonstrado que a hipertensão arterial está associada ao aumento da concentração plasmática de mediadores inflamatórios e, também, à inflamação vascular. O aumento do número de monócitos e linfócitos circulantes, produção exagerada de moléculas de adesão celular e de citocinas pró-inflamatórias, tais como fator de necrose tumoral ± (TNF-±), interleucina-6 (IL-6) e proteína C reativa, caracterizam o processo inflamatório na hipertensão arterial. Tais alterações como o aumento da concentração plasmática de mediadores inflamatórios e inflamação vascular também são observados em ratos espontaneamente hipertensos (SHR). Por outro lado, a infusão intracerebroventricular de IL-1², uma citocina pró-inflamatória, ativa o simpático e produz aumento da pressão arterial (PA).A estimulação de aferências vagais por citocinas e outros produtos da inflamação estimula respostas anti-inflamatórias sistêmicas mediadas pelo eixo hipotálamo-hipófise adrenal. Entretanto, a atividade eferente (parassimpática) do vago também exerce um marcante efeito anti-inflamatório, caracterizando o que chamamos reflexo inflamatório que tem como alvo o baço e outros órgãos produtores de citocinas, onde a expressão destas é inibida por mecanismos moleculares mediados pelo receptor nicotínico de acetilcolina do tipo ±-7 (±-7nAChR). Muita atenção têm sido dispensada ao potencial uso da estimulação elétrica do nervo vago como ferramenta de ação anti-inflamatória, que tem se mostrado segura e eficaz no tratamento de diversas doenças como Doença de Alzheimer, dor neuropática, lesões traumáticas do encéfalo, e também na proteção do encéfalo contra lesões isquêmicas.O barorreflexo arterial é um dos principais mecanismos da regulação de curto prazo da PA, produzindo importante simpato-inibição e estimulação parassimpática. A estimulação elétrica de aferências neurais dos barorreceptores em ratos, com os mais variados objetivos, é uma técnica utilizada na década de 60 como método de tratamento da hipertensão arterial tendo em vista as limitações da terapia farmacológica da época. Entretanto, atualmente a estimulação elétrica do seio carotídeo está sendo novamente utilizada como método efocáz de tratamento de pacentes com hipertensão refretária ao tratamento farmacológico. Assim, o presente projeto propõe avaliar a influência da estimulação elétrica crônica do seio carotídeo (barorreceptores carotídeos) sobre as alterações cardiocirculatórias e inflamatórias em SHR. Serão analisados, em SHR adultos jovens, parâmetros hemodinâmicos (PA, FC e função cardíaca), autonômicos (tono vagal e simpático), inflamatórios (citocinas circulantes), e a lesão de órgãos alvos: coração (remodelamento cardíaco) e vasos sanguíneos (expressão de moléculas de adesão celular, mediadores do linfócito T regulador, função endotelial e remodelamento vascular).
|