Resumo
Nosso grupo vem trabalhando sistematicamente na caracterização física e biológica de uma lectina da superfície do fungo P. brasiliensis, a paracoccina, que tem mostrado desempenhar papel importante na biologia e na patogenicidade do fungo. Foi demonstrado que paracoccina está presente na superfície de leveduras, com predominância nas regiões de brotamento (Coltri et al., 2006), e que essa lectina também apresenta atividade de N-acetilglicosaminidase, sendo importante na biogênese da parede celular de P. brasiliensis (dos Reis Almeida et al., 2009 e 2011). Esses fatos indicam um relevante papel da lectina no crescimento fúngico, idéia que já havia sido sugerida pela observação de que a adição de anticorpos anti-paracoccina ao meio de cultivo de P. brasiliensis inibe o seu crescimento (Ganiko et al., 2007).Além disso, paracoccina liga-se à laminina de maneira dose-dependente, sendo inibida na presença de açúcar específico, propriedade que pode contribuir para a adesão do fungo à matriz extracelular e a invasão de tecidos do hospedeiro. A habilidade de um microorganismo em aderir e invadir é reconhecida como um fator importante de sua patogenicidade. Paracoccina também induz macrófagos a produzirem TNF-±e altas concentrações de NO (Coltri et al., 2006). O projeto aqui apresentado encontra fundamento em estudos feitos em nosso laboratório não apenas com paracoccina, como também com outras lectinas, de plantas ou de patógenos, que desempenham atividade imunomoduladora desencadeada pelo reconhecimento de glicanas de receptores de células da imunidade inata envolvidos em sinalização. Nesse contexto, Toledo e colaboradores (2009) demonstraram que a lectina vegetal Artin M induz a produção de citocinas por neutrófilos, desencadeada pelo reconhecimento de CXCR2 e TLR2, além de ser capaz de modular a expressão de TLR2 na superfície celular. Além disso, Artin M atua sobre macrófagos e células dendríticas, induzindo a produção de IL-12 a partir de sua interação com glicanas de TLR2 (Coltri et al., 2008). A atividade lectínica do complexo MIC1/4 Toxoplasma gondii também vem sendo caracterizada por nosso grupo de pesquisa, tendo sido identificada como responsável pela indução de produção de IL-12 por células esplênicas murinas (Lourenço e colaboradores, 2006). Assim esse conjunto de dados da literatura e de observações do próprio grupo, justifica o investimento de esforços na caracterização da paracoccina, de forma a avaliar sua expressão em diferentes formas fúngicas e sua interação com receptores de células da imunidade inata,incluindo as repercussões biológicas dessa interação.
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