Resumo
Os processos degenerativos são considerados determinantes na progressão do déficit neurológico na esclerose múltipla (EM). Essas alterações patológicas demonstram correlações mais fortes com a atrofia e desorganização de conexões cerebrais do que com o acúmulo de lesões desmielinizantes macroscópicas no tecido encefálico. Pela complexidade do sistema nervoso central (SNC) os padrões de conectividade anatômica e funcional, bem como a quantificação de atrofia e modificações sutis na sua organização estrutural, não são facilmente acessados pelas imagens de ressonância magnética (IRM) convencionais. Adicionalmente, a utilização da disfunção neurológica pela escala clínica mais tradicional na EM, a Expanded Disability Status Scale (EDSS) é também limitada na abordagem do espectro completo dos déficits funcionais na EM, havendo necessidade de uma abordagem mais ampla, incluindo testes cognitivos. Recentemente, técnicas avançadas de neuroimagem têm sido desenvolvidas para a reconstrução das conexões cerebrais e na aplicação em estudos de redes neurais, normais e patológicas, na tentativa de descrever o conectoma humano. As imagens funcionais em estado de repouso demonstram áreas de ativação cortical sincronizadas que são tomadas por pertencer a redes neurais específicas. Da mesma maneira, existem evidências de que áreas cerebrais com covariações semelhantes em características anatômicas detalhadas, como espessura, curvatura e volume, demonstram alta probabilidade de ser conectadas entre si. Esses modelos têm sido estudados isoladamente e não há conhecimento se os resultados obtidos pelas diferentes técnicas possuem significado semelhantes numa mesma população. Pela análise de imagens por tensores de difusão (Diffusion Tensor Imaging -DTI), é possível caracterizar a microestrutura de tratos de substância branca associados aos nodos corticais das redes neurais funcionais e anatômicas, estabelecendo um mapa global de conectividade entre os principais compartimentos cerebrais. O objetivo deste projeto é realizar uma análise multiparamétrica da conectividade cortical e da substância branca na EM, combinando modelos de conectividade funcional e anatômica, através de análises gráficas de imagens de ressonância magnética funcional em estado de repouso, gráficos corticais obtidos de imagens estruturais de alta resolução e da tractografia por DTI, correlacionando-os com análise clínica e cognitiva detalhada. Com esse tipo de análise, visamos elucidar mecanismos fisiopatológicos cruciais envolvidos na progressão do déficit neurológico na EM e fornecer dados inovadores na pesquisa do conectoma humano. (AU)
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