Resumo
Immanuel Kant, na fundamentação da Metafísica dos costumes, diz que uma ação é boa não pelo fim que ela almeja buscar, mas somente pelo próprio ato de querer. É da intenção da ação que extraímos seu valor moral e não, digamos, de uma finalidade previamente determinada. Essa concepção, apoiada numa teoria teleológica, será suprimida na fundamentação, uma vez que a ação, se determinada pelo mero princípio racional (isto é, a vontade como determinada pela lei moral), por si só bastaria para julgarmos um ato como moral. Quer dizer: a ação, segundo Kant, é boa por um princípio racional, isto é, que se determina independentemente de qualquer fim que se pressupõe alcançar. Entretanto, em uma curiosa passagem da própria fundamentação, notamos o seguinte: "... a verdadeira destinação (Bestimmung) da mesma (da razão) tem de ser a de produzir uma vontade boa, não certamente enquanto meio em vista de outra coisa, mas, sim, em si mesma - para o que a razão era absolutamente necessária." (KANT, 2009, p. 113). Ora, se antes, Kant havia afastado, num primeiro momento pelo menos, uma abordagem teleológica de sua teoria moral em detrimento da ação que se determina como boa pelo mero princípio racional e que, por isso, não carece da realização efetiva do fim para ter valor moral, agora, Kant faz uso do conceito destinação para se referir ao fim último da razão. Esta destinação, a saber, este fim último da razão, será o de produzir uma boa vontade. Então, no limite, até que ponto Kant - mesmo havendo suprimido o conceito de Teleologia de sua teoria moral - teria, na verdade, dado abertura justamente a este conceito deixado de lado em um primeiro momento? Portanto, é plausível interpretamos de maneira teleológica a moral kantiana através do conceito de Bestimmung? Destarte, iremos, a partir desse ponto, investigar se a destinação (Bestimmung) envolve uma concepção teleológica e, a partir daí, se há algum lugar para outras formas de Teleologia na moral kantiana. (AU)
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