Resumo
O debate humanista das práticas artísticas no Renascimento italiano fomentou especialmente no século XVI uma das mais complexas e profícuas elaborações textuais da produção tratadística da música. A contextualização teórica daquela prática musical bem como a investigação do papel dos seus artífices profissionais e diletantes, objetivos dessa pesquisa, pretende situar analiticamente a partir das publicações quinhentistas impressas em língua italiana e latina o exercício e a formação epistêmica do antigo músico. Fundamental ferramenta para a compreensão dos tratados em questão, a Retórica é chave de leitura do "texto além do texto" e conhecimento também comum àqueles autores que, apresentavam em suas publicações, além do domínio técnico esperado, extenso aparelho humanista. Ao confrontar as disciplinas e habilidades fomentadas pelo estudo da musica prattica italiana com a studia humanitatis comum a cortesãos e músicos durante o Renascimento, pretendemos demonstrar bibliograficamente o alto grau de importância dos conhecimentos extrínsecos à pura ação do instrumentista ou cantor, explicitando os elementos retóricos, poéticos e científicos contidos naquelas edições musicais italianas. Uma vez que o próprio entendimento de música e músico é complexamente diverso e amplo naquele contexto, é coerente recuperar tal horizonte de sentido - conceitos e ideias - através dos documentos musicais artísticos e inartísticos que expõem, além das sede argumentorum filosóficas, as emendas e tópicas visitadas na redação dos tratados. Literariamente, o tratadista humanista, também referido à época como perfetto musico, age como um gentil-homem que transita discursivamente entre os nobres cortesãos de seu tempo, elaborando e amplificando o discurso técnico com vistas ao decoro de seus leitores e ao fim do seu ofício. Por essa razão, é oportuno considerar as disciplinas práticas do exercício do músico no Renascimento como parte de uma complexa rede de conhecimentos, na qual é proeminente o discurso e suas poéticas, empreendendo a recuperação das preceptivas e do arrazoado quinhentista daquele exercício artístico. (AU)
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