Resumo
Há 30 anos multinacionais têm construído ao redor do mundo centros comerciais gigantescos, fechados e climatizados, denominados pelo termo "shopping mall" ou "shopping center". Especificamente no Brasil foram construídos cerca de 10 durante a década de 1980, número que chegou a mais de 300 em 2002, e que agora está perto de 500. Além do objetivo mercantil, tais shopping malls (literalmente: "avenidas públicas onde se fazem compras") têm a pretensão de recriar a "cultura do público" do centro das cidades que, a partir da década de 1980, tem sido abandonado. No centro das cidades era possível fazer compras, encontrar os amigos, tomar um café, ir ao cinema, ao teatro, enfim, trocar experiências. No entanto, será que essa "arquitetura voltada para dentro", separada do espaço externo, não promove, ainda mais, o declínio da vida pública, ao submetê-la aos imperativos do mercado de consumo? Será que o shopping simula o verdadeiro espaço público? Será que sua "cultura" não impõe um imaginário global de consumo (americano) à cultura local? Este projeto tem por objetivo responder a essas questões a partir do exemplo do Shopping Parque Dom Pedro (situado em Campinas, 2002). Ele se inscreve na linha do livro que escrevi em 2013 sobre dois séculos de arquitetura de mercados (galerias, grandes lojas, centros comerciais), e sobre um caso específico: o do Mall of America (Minnesota, 1992). Pretendo retomar o método urbano de Walter Benjamin que desenvolvi em minha tese (2009) e em dois outros livros (2013 e 2014), assim como o trabalho de uma rede de pesquisa internacional que dirijo desde 2010: Antropologic Materialism. Minha motivação atual é esclarecer a "cultura do público" dos shoppings, e sua "cultura material" de um consumo presente em todo o mundo, a partir de uma abordagem sócio-antropológica da globalização inspirada em Walter Benjamin. Vou elaborar novos métodos empíricos para esclarecer esse objeto relativamente pouco estudado, de forma a dar conta dessas questões urgentes de nossa época. (AU)
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