Resumo
A espécie Criptococcus gattii é encontrada nas zonas climáticas tropical, subtropical e temperada; causa criptococose em indivíduos imunocompetentes e saudáveis, incluindo crianças. A infecção é ocasionada pela inalação de esporos e leveduras de C. gattii. Esse patógeno tem predileção pelo pulmão, sendo possível disseminar para o SNC. A patogênese da doença é influenciada por fatores de virulência do fungo, principalmente por sua cápsula polissacarídica. C. gattii tem a capacidade de subverter a resposta das células da imunidade inata, reduzindo a atividade microbicida dos fagócitos e a resposta adaptativa mediada por células T helper CD4+ (Th) do tipo 1 e 17, que atuam na resposta efetora contra a criptococose. O tratamento estabelecido da doença constitui de drogas antifúngicas; entretanto, relata-se toxicidade e a limitação em eliminar o C. gattii dos órgãos afetados. A imunoterapia tem sido proposta como alternativa para reverter a subversão da resposta imune provocada por C. gattii. O direcionamento adequado da resposta pode ser conseguido por agentes imunomoduladores, tendo receptores da imunidade inata como potenciais mediadores. Esse efeito imumomodulador pode ser promovido por lectinas, que reconhecem N-glicanas de receptores do tipo Toll (TLRs) e desencadeiam a ativação. Esse mecanismo é descrito para lectinas estudadas por nosso grupo, que direcionam uma imunidade efetora Th1 e Th17 resultando na proteção contra infecções, como a causada por Paracoccidioides brasiliensis e Candida albicans. Essas evidências suportam a capacidade das lectinas em modular adequadamente a resposta imune contra infecções fúngicas, uma interessante estratégia terapêutica contra a criptococose. Propomos assim, delinear estratégias terapêuticas para combater a infecção por C. gattii com base no reconhecimento, por lectinas, de glicanas associadas a receptores expressos em células da imunidade. Nesse sentido, as lectinas ArtinM, Paracoccina, ConA, PHA-L e WGA, que reconhecem carboidratos de tais receptores, serão ensaiadas quanto ao efeito imunomodulador exercido em modelos de infecção in vitro e in vivo. Para tanto os seguintes parâmetros serão analisados: atividade fagocítica e killing das células da imunidade; níveis de citocinas e quimiocinas produzidas; mensuração de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio; expressão de moléculas coestimuladoras; expressão relativa de marcadores de polarização dos macrófagos e células T CD4+; fosforilação de moléculas da via de sinal de TLR, níveis de expressão de fatores de virulência do C. gattii; níveis de GXM; histopatologia; perfil celular do infiltrado inflamatório; carga fúngica em órgãos; curva de sobrevida. De maneira inovadora, células T serão modificadas pela expressão de receptores antigênicos quiméricos (CAR) que conterão o CRD das lectinas, possibilitando a interação com glicoalvos e a consequente ativação de células inata e adaptativa. Essa estratégia será avaliada in vitro, após infecção por C. gattii, tendo o co-cultivo de macrófagos e células T modificadas. Em seguida, análise de viabilidade das células fúngicas, perfil de citocinas e quimiocinas secretadas, liberação de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, liberação do conteúdo de grânulos de perforina e granzima, níveis de expressão de fatores de virulência do C. gattii. Os resultados obtidos orientarão a abordagem a ser utilizada em modelos de infecção in vivo.
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