Resumo
Acidentes causados por animais peçonhentos são classificados como Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs). Atualmente, o tratamento específico disponível para envenenamentos graves causados por animais peçonhentos é o uso de antivenenos heterólogos. Embora os antivenenos heterólogos sejam, até a presente data, o único tratamento eficaz disponível para envenenamentos graves, esses soros apresentam vários problemas indesejáveis documentados: (I) Antivenenos heterólogos podem causar reações pirogênicas e anafiláticas; (II) Devido à sua natureza heteróloga, os anticorpos de cavalo presentes nos soros podem atuar como antígenos e ativar o sistema imunológico humano, resultando na produção de anticorpos humanos anti-anticorpos de cavalo; (III) A maioria desses anticorpos (70 %) não é direcionada para toxinas clinicamente relevantes, mas sim dirigidas contra outros antígenos exógenos que o animal imunizado encontrou durante sua vida; (IV) A grande quantidade de anticorpos heterólogos combinados com anticorpos humanos anti-anticorpos de cavalo pode resultar em alta produção de imunocomplexos, desencadeando a Doença do Soro. Assim, afim de evitar todos esses problemas, a alternativa mais desejável seria a produção de anticorpos homólogos, ou seja, totalmente humanos. O laboratório de Imunopatologia Molecular (LIM), sob responsabilidade do médico e Dr. José Elpidio Barbosa, vem se dedicando há mais de uma década à produção de antivenenos constituídos de fragmentos de anticorpos humanos. Utilizando a tecnologia de Phage Display, o presente laboratório produziu anticorpos humanos do tipo scFv (do inglês, single-chain fragmente variable) para peçonhas de escorpião - Serrumab (Tityus serrulatus), de jararaca - Bothrumab (Bothrops sp), de cascavél - Crotumab (Crotalus durissus terrificus), de surucucu - Lachesumab (Lachesis muta), de coral - Micrurumab (Micrurus leminiscatus) e de abelha africanizada - Afribumab. Hoje, o grupo representa 30% das publicações mundiais na área. No entanto, embora já estejam patenteados e/ou em processo de patenteamento, muitos deles precisam ser aprimorados quanto à sua afinidade e formato antes de serem incluídos em uma mistura de antivenenos, objetivando uma futura transferência de tecnologia e disponibilidade no mercado farmacêutico. Nesse contexto, o presente projeto procurará aprimorar a afinidade e otimizar o formato dos anticorpos Serrumab e Afribumab. Posteriormente, os anticorpos aprimorados serão utilizá-los em ensaios funcionais in vitro e in vivo de prova de conceito. (AU)
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