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Corporeidade e performance: Nossa Senhora Aparecida e a mulher lobisomem, Brasil

Processo: 18/19609-9
Modalidade de apoio:Bolsas no Exterior - Pesquisa
Data de Início da vigência: 31 de janeiro de 2019
Data de Término da vigência: 30 de julho de 2019
Área de conhecimento:Ciências Humanas - Antropologia - Teoria Antropológica
Pesquisador responsável:John Cowart Dawsey
Beneficiário:John Cowart Dawsey
Pesquisador Anfitrião: Diana Taylor
Instituição Sede: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Universidade de São Paulo (USP). São Paulo , SP, Brasil
Instituição Anfitriã: New York University, Estados Unidos  
Assunto(s):Eficiência   Teatro   Corpo   Comportamento ritualístico
Palavra(s)-Chave do Pesquisador:Corpo | Nossa Senhora | performance | repertório corporificado | ritual | teatro | antropologia da performance

Resumo

Esta proposta surge da surpresa proporcionada por uma experiência de campo em Aparecida do Norte, cidade da padroeira do Brasil, seguindo devotos oriundos do Jardim das Flores (ou "Buraco dos Capetas") - localizado nos arredores de uma cidade do interior paulista - num percurso que vai da nova basílica ao parque de diversões. No parque se encontram as grandes atrações da mulher lobisomem, da mulher cobra e da mulher gorila. Ao retornarem ao Jardim das Flores, devotos falavam com reverência e emoção da visita à santa. Mas, também demonstravam enorme alegria e comoção ao falarem da mulher lobisomem, que haviam visto. Os registros em cadernos de campo chamam atenção. Em destaque, as semelhanças entre o espetáculo da mulher lobisomem e as descrições que mulheres fazem de suas experiências de mutações repentinas. Na configuração de um gesto, de mulheres "doidas de raiva", virando bichos e avançando sobre "os homens" ou forças que ameaçam as suas famílias e redes matrifocais, um estado de inervação corporal é produzido. Qual é a relação entre repertórios corporificados que se manifestam em Aparecida (na basílica e no parque de diversões) e os que se revelam no espantoso cotidiano do Jardim das Flores? Chamam atenção, ainda, as narrativas sobre o corpo da santa. Trata-se de uma imagem fendida. A sua cor é de argila escura. A santa é uma mulher. Pretende-se neste projeto analisar o material de campo produzido em Aparecida e no Jardim das Flores a partir dos estudos inovadores de Diana Taylor sobre performances corporificadas (embodied performances).Os objetivos do projeto se delineiam da seguinte forma: 1) investigar o modo como se compõem os repertórios corporais de devotos de Aparecida em três locais: a) na basílica nova onde se encontra a imagem da santa; b) no parque de diversões onde se localizam as atrações da mulher lobisomem, da mulher gorila e da mulher cobra; e c) no Jardim das Flores (ou, conforme o nome dado pelos próprios moradores, no "Buraco dos Capetas"), onde residem os devotos com quem venho realizando o trabalho etnográfico; 2) compreender processos de formação de repertórios corporificados em devotos do Jardim das Flores a partir de experiências envolvendo espaços rituais (basílicas, etc.) e de brincadeira ou play (parques de diversão) em Aparecida; 3) explorar a hipótese de que elementos de repertórios corporificados que se associam, por meio de um processo de classificação binária em Aparecida, a espaços sagrados e rituais (basílicas, etc.) ou a espaços profanos e de brincadeira ou play (parque de diversões), se reúnem em repertórios unificados e carregados de tensões nos corpos inervados de mulheres e homens no Jardim das Flores; 4) entender os modos como performances corporificadas que ocorrem em espaços rituais (basílicas, etc) e de brincadeira (parques de diversão) em Aparecida afetam e são afetadas por performances da vida cotidiana (ou dramas sociais) no Jardim das Flores; 5) colocar em questão o corpo da santa, tendo em vista três relatos amplamente difundidos: a) no ano de sua primeira aparição, em 1717, pescadores retiraram do fundo do rio um corpo sem cabeça, e, a seguir, uma cabeça sem corpo; b) a santa é da cor de argila escura do fundo do rio; e c) a santa é uma mulher.Nesta pesquisa, a noção de montagem pode ser mobilizada para fins de análise. Uma imagem de santa se justapõe à de uma mulher lobisomem. Tal como acontece nas montagens que Sergei Eisenstein buscava no cinema, os planos colidem. E, no entanto, se fundem. A partir da fusão de dois fatores em conflito cria-se uma imagem ou montagem carregada de tensões: sagrado e profano, basílica e parque de diversões, santa e mulher lobisomem. No Jardim das Flores, mães devotas ficam doidas de raiva.A ideia de montagem também pode ser propícia para a análise da imagem de uma santa fendida. Pescadores encontraram um corpo sem cabeça e, depois, uma cabeça. Na basílica, o rosto da santa. No parque de diversões, um baixo corporal medonho.

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Publicações científicas
(Referências obtidas automaticamente do Web of Science e do SciELO, por meio da informação sobre o financiamento pela FAPESP e o número do processo correspondente, incluída na publicação pelos autores)
JOHN C. DAWSEY; CLAUDIA DA SILVA SANTANA. Brincando de bonecos: um ensaio benjaminiano sobre mimesis. Horiz. antropol., v. 26, n. 56, p. 29-56, . (18/19609-9)