Escritas da oralidade: Homero e Francisco Sales Arêda enquanto expoentes da literatura oral antiga e contemporânea

• Processo: 23/01458-2
• Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Iniciação Científica
• Vigência (Início): 01 de agosto de 2023
• Vigência (Término): 31 de julho de 2024
• Área do conhecimento: Linguística, Letras e Artes - Letras - Literaturas Clássicas
• Pesquisador responsável: Adriane da Silva Duarte
• Beneficiário: Júlia Moura Dias
• Instituição Sede: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Universidade de São Paulo (USP). São Paulo , SP, Brasil
• Assunto(s): Cultura popular Homero Literatura de cordel Literatura oral
• Palavra(s)-Chave do Pesquisador: cultura popular | épica grega | Francisco Sales Arêda | Homero | literatura de cordel | literatura oral | Recepção dos Clássicos

Resumo

O projeto visa explicitar aspectos comuns entre a literatura de cordel nordestina e a épica grega, enquanto frutos da cultura popular na Antiguidade e em tempos recentes, a fim de melhor compreender o processo de criação e disseminação da literatura oral por meio da análise das obras "O Negrão do Paraná e o Seringueiro do Norte", "O encontro do irmão do Negrão do Paraná com o Seringueiro do Norte" e "O coronel Mangangá e o Seringueiro do Norte" do cordelista paraibano Francisco Sales de Arêda e os cantos XX e XXI da "Ilíada" de Homero, representativas dos gêneros que integram e dotadas de proximidade temática entre si. Segundo Jadir de Morais Pessoa, a cultura popular, além de ser expressão do cotidiano e do trabalho de uma comunidade, é também uma "construção de saberes que são vividos em gestos de partilha entre iguais antes de serem trocados e comunicados" (PESSOA, 2018), assim como, pela perspectiva da tradição grega, Reece sugere que a tradicionalidade da épica homérica em toda sua complexidade e particularidade advém da partilha e da transmissão das narrativas: "(...) no single poet could have been responsible for such systems; they had been created and nurtured by generations of bards who had passed them down from father to son, from master to student, until they reached Homer in the late eighth century BCE." (REECE, 2015)Portanto, a pesquisa a ser realizada busca identificar os reflexos dessas interações sociais nos textos de Arêda e de Homero. Partindo dos textos teóricos propostos, é possível delimitar os espaços de disseminação da poesia oral antiga e da literatura popular em verso nordestina, sua função social e características particularizantes, assim como as relações de identificação e pertencimento entre texto e sociedade, responsáveis pela intimidade entre obra e cultura que será trabalhada na pesquisa, visto que os aspectos das literaturas analisadas, tanto temáticos quanto estéticos, só se consolidam a partir das características das sociedades onde prosperam.Sendo assim, serão observadas marcas da oralidade na linguagem empregada nas obras, indícios textuais da disseminação pública das narrativas mediante o trabalho de um cantador - seja ele o repentista nordestino ou o aedo grego - a presença do imaginário coletivo nas personagens e narrativas compostas e a função ou importância dos gêneros literários dos quais fazem parte para a sociedade na qual estão inseridos.Desta forma, proponho um estudo comparativo entre a literatura de cordel de Francisco Sales de Arêda e os cantos homéricos da Ilíada, levantando a hipótese de que produção em verso popular do nordeste brasileiro é um meio de entendimento da transmissão oral da poesia na sociedade helênica por meio de suas semelhanças à épica grega da antiguidade, no tocante à sua origem comum na forma de circulação das obras via tradição oral, em sociedades majoritariamente iletradas e por meio do trabalho de um cantador, sugerindo a comparação como forma de identificação das permanências do gêneros orais ao longo da história e uma maneira didática de compreender a tradição clássica a partir de uma literatura contemporânea.