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Retornados em Gana: focando experiências diaspóricas na África Ocidental

Processo: 23/14398-8
Modalidade de apoio:Bolsas no Exterior - Pesquisa
Vigência (Início): 15 de agosto de 2024
Vigência (Término): 14 de agosto de 2025
Área do conhecimento:Ciências Humanas - Antropologia - Antropologia das Populações Afro-brasileiras
Pesquisador responsável:Andreas Hofbauer
Beneficiário:Andreas Hofbauer
Pesquisador Anfitrião: James Lorand Matory
Instituição Sede: Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC). Universidade Estadual Paulista (UNESP). Campus de Marília. Marília , SP, Brasil
Local de pesquisa: Duke University, Estados Unidos  
Assunto(s):Identidade   Memória
Palavra(s)-Chave do Pesquisador:Atlântico Negro | Diáspora africana | Identidade | memória | Retornados | Diásporas africanas/negras

Resumo

O foco da pesquisa proposta é o processo de (re-)inserção dos escravizados e seus descendentes que foram levados para as Américas e "retornaram" à África Ocidental. Num primeiro momento, pretendo me concentrar na população chamada de tabom, que são os descendentes daqueles africanos que viveram como escravizados e/ou libertos no Brasil (mais especificamente na Bahia), antes de terem voltado para Gana, mais especificamente, para Acra. Num segundo momento, há a intenção de estudar também o grupo dos "retornados" dos EUA, com o objetivo de elaborar um estudo comparativo no que diz respeito às semelhanças e diferenças nos processos de "inserção" e "integração" destas duas populações diaspóricas na sociedade ganesa.Os processos de inserção se deram de forma diferente, fato que tem a ver com contextos históricos distintos e com os posicionamentos frente à população local. Estes têm sido influenciados por um jogo baseado em processos de memorização e de identificação. As narrativas míticas dos tabom lembram "a terra de origem" Brasil e a divindade ^ángò (Shango, Xangô), tida como responsável pelo seguro retorno à África. Embora a primeira geração tenha sido ex-cativa, esta experiência é excluída da memória coletiva do grupo. Já as motivações que levaram um grupo de negros norte-americanos a fixar-se em Gana estão relacionadas com a sua memória da escravidão, o racismo e a identificação com as populações ganesas em torno da categoria raça.No processo de "integração", os tabom "subjugaram-se", de certo modo a uma estrutura sociopolítica local: adotaram não apenas a língua gã, mas também toda a estrutura social e política desse grupo étnico. À parte seus sobrenomes particulares, seu modo de vida não se distingue daquele dos gãs e geralmente são percebidos como parte deste grupo. Mas há momentos em que a "sua origem brasileira" é afirmada e ganha destaque (contextos ritualísticos, encontros com pessoas vindas do Brasil). Já os negros norte-americanos continuam vivendo como um grupo à parte e não raramente são identificados como oborTny, um termo usado em Gana [língua fante - akan] para todos os "estrangeiros", independentemente de sua cor de pele. Este fato tem a ver, evidentemente, com fatores culturais, tais como a linguagem corporal e competências linguísticas particulares, que funcionam como marcadores de diferença. Hipótese preliminar: os modos como os tabom e os afro-americanos têm se relacionado com a população local são, entre outros fatores, marcados por diferentes posicionamentos diante de dois topói importantes: escravidão e raça. A primeira geração dos tabom que sofreu a escravização não "cultivava", na sua volta à África, a memória dos sofrimentos dessa experiência, mas preferia esquecer esta experiência terrível. Caso contrário, dificilmente teriam conseguido se inserir nos gãs nem boa parte deles se transformado em traficantes de escravizados. Hoje, a escravidão continua sendo um tema tabuizado nesse grupo. Já os afro-americanos recém-retornados enfatizam as dores da escravização e os sofrimentos provocados pelo racismo e, nas suas argumentações e explicações dos traumas vividos, mobilizam o fator raça que, entendem, os une aos africanos. No entanto, a importância atribuída ao fenômeno da escravidão e ao fator raça para a formação de sua identidade contribui de certo modo também para que os ganeses sintam dificuldade em se identificar com aqueles que "retornaram" em busca de uma "reintegração" na África. Por trás dessas fricções parecem estar entendimentos diferentes de descendência e de pertencimento.

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