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As condições do estudo sociológico dos linchamentos no Brasil

Processo: 98/11408-9
Modalidade de apoio:Bolsas no Exterior - Pesquisa
Vigência (Início): 11 de outubro de 1998
Vigência (Término): 13 de novembro de 1998
Área do conhecimento:Ciências Humanas - Sociologia - Outras Sociologias Específicas
Pesquisador responsável:José de Souza Martins
Beneficiário:José de Souza Martins
Pesquisador Anfitrião: Alberto David Lehmann
Instituição Sede: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Universidade de São Paulo (USP). São Paulo , SP, Brasil
Local de pesquisa: University of Cambridge, Inglaterra  
Assunto(s):Comportamento coletivo   Movimentos sociais   Violência   Linchamento
Palavra(s)-Chave do Pesquisador:Comportamento Coletivo | Justica Popular | Linchamentos | Movimentos Sociais | Ritos Sacrificiais | Violencia

Resumo

Os linchamentos são mais do que um problema social; são expressões dramáticas de complicados processos de desagregação social e, também, de busca de um padrão de sociabilidade diferente daquele que se anuncia através de tendências sociais desagregadoras. Seria pobre a interpretação que se limitasse a vê-los simplesmente como manifestação de conservadorismo ou que, ao contrário, se limitasse a neles ver indicação de uma conduta cidadã e inovadora, ainda que equivocada na forma. Antes, é necessário neles resgatas a dimensão propriamente dramática do medo e da busca, ingredientes que muitas vezes acompanham os processos de mudança social. É claro que esses ingredientes ganham sentido na tradição conservadora relativa a uma certa visão de mundo centrada mais na categoria de pessoa do que na categoria de indivíduo. Tradição, por sua vez, revigorada justamente, ao que tudo indica, pelas características excludentes e patológicas do nosso desenvolvimento social, em particular do desenvolvimento urbano. Tendências de desenvolvimento e subdesenvolvimento simultâneas muito polarizadas, cujos extremos estão excessivamente distantes entre si, parecem estabelecer linhas de desigualdade social que delimitam mais do que riqueza e pobreza e que acabam afetando profundamente a própria concepção de humano e pessoa. É essa concepção que está em jogo nos linchamentos. Nesse sentido, e no essencial, não é grande a diferença que se pode encontrar na comparação entre o caso americano e o caso brasileiro. Lá também, especialmente no sul, estavam em jogo essa mesma polarização extrema e esse mesmo limite do humano, o que se consubstanciava em especial nas concepções de casta que regiam as relações entre algozes e vítimas, entre brancos e negros. O tema do linchamento é um desses temas reveladores da realidade mais profunda de uma sociedade, de seus nexos mais ocultos e ativos. Nos linchamentos se faz presente a dimensão mais oculta do nosso imaginário, sobretudo nas formas elaboradas e cruéis de execução das vítimas. A centralidade do corpo nesse imaginário explode nas ações de linchamento, quando pacíficos transeuntes, pacíficos vizinhos, devotados parentes e pais se envolvem na execução de alguém a quem às vezes, estão ligados por vínculos de sangue, às vezes o próprio filho. E, sobretudo, quando se envolvem na mutilação, na castração e na queima da vítima ainda viva. A forma que entre nós assume a chamada justiça popular está muito distante do romantismo ingênuo que tem marcado tão fundo estudos sobre a cultura popular em nosso país e o discurso abstrato e ineficaz sobre cidadania. (AU)

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