Impacto da Interconsulta Cardiológica na Evolução Clínica de Pacientes Hospitalizados.

Resumo

As doenças cardiovasculares são as principais causas de mortalidade em nosso país. Além das enfermidades que afetam diretamente o coração e o sistema circulatório, existe um grande número de doenças sistêmicas nas quais o aparelho cardiovascular é envolvido e contribui significativamente para a morbidade dos pacientes. Não obstante, o envelhecimento da população e os avanços nas técnicas anestésicas e operatórias têm permitido que as intervenções cirúrgicas sejam realizadas com maior freqüência em pacientes com alto risco de complicações cardiovasculares. Neste cenário, comumente o cardiologista é requisitado para oferecer sua contribuição no manejo de pacientes que estão sob os cuidados de outros especialistas, seja no contexto perioperatório ou fora deste. A interconsulta cardiológica, cada vez mais freqüente nos dias atuais, corresponde a uma parcela considerável das atividades assistenciais e de ensino do cardiologista, refletindo gasto extra de tempo e recursos. Apesar disso, estudos sobre esta importante atividade na área cardiológica têm sido escassos na literatura.É possível que o grau de concordância com as recomendações sugeridas pela interconsulta cardiológica tenha interferência na evolução clínica dos pacientes. Propomos um estudo observacional e prospectivo, cujo objetivo principal é comparar a evolução clínica dos pacientes que tiverem as recomendações cardiológicas seguidas pelos médicos solicitantes das interconsultas com aqueles em que as recomendações não forem seguidas. De forma secundária, também serão analisados fatores que possam influenciar a aderência às recomendações por parte dos médicos solicitantes das interconsultas (características clínicas, especialidade solicitante e características da sugestão formulada). A população de onde será retirada a nossa amostra será de pacientes internados no HCFMUSP, para os quais sejam solicitadas interconsultas cardiológicas. De acordo com o cálculo do tamanho amostral baseado em estudo piloto previamente realizado, serão necessários 201 pacientes no grupo aceitador e 67 pacientes no grupo não aceitador para obter um poder estatístico de 80%, considerando um nível de significância de 0,05 bicaudal. Os dados referentes às interconsultas serão coletados de forma prospectiva a partir de um formulário padronizado, que inclui características clínicas dos pacientes (idade, sexo, índice de comorbidade de Charlson, diagnóstico), a especialidade solicitante, características das sugestões formuladas (tempo de resposta, tipo e complexidade das sugestões, presença de contato verbal entre os médicos e visitas de seguimento) além da porcentagem de aceitação das condutas. De acordo com essa porcentagem, os pacientes serão divididos em grupo aceitador (aceitação maior ou igual a 85% das condutas) e grupo não aceitador (aceitação menor que 85% das condutas), ponto de corte escolhido com base no estudo piloto, que demonstrou diferença significativa de eventos entre os grupos divididos a partir desse valor. Na análise da evolução clínica os pacientes serão alocados nos seguintes grupos: alta, óbito, quadro cardiovascular inalterado, melhora cardiovascular ou piora cardiovascular. Em relação à análise estatística, inicialmente será realizada uma análise descritiva das variáveis de interesse, seguida da comparação entre o grupo aceitador e grupo não aceitador através do teste T para variáveis numéricas e teste do qui-quadrado para variáveis categóricas. Por fim, a influência da taxa de aceitação na evolução clínica dos pacientes será analisada através de regressão logística. (AU)