Pedro Henrique Emanuel Máccimo

Nossa proposta já se fundamentou em estudarmos os procedimentos, valores e critérios de crítica presentes nas Histórias da Literatura Brasileira de Sílvio Romero (1888) e de José Veríssimo (1915). O nosso intuito, em tal estudo, era o de identificar como tais dados nortearam a constituição, a consolidação e o funcionamento da historiografia literária brasileira daquele período, estabelecendo ideias, procedimentos e valores que ainda permanecem no sistema literário brasileiro. A pertinência e a relevância da proposta se amparavam no estudo dessas importantes obras fundadoras da historiografia literária nacional. Hoje nos concentramos em compreender como Ana Miranda, no romance Boca do Inferno (1999), compõe e, ao mesmo tempo, articula uma série de conhecimentos críticos que envolvem, simultaneamente, a literatura, a crítica e a historiografia literária brasileiras. Consideraremos no tocante a questão que diz respeito ao gênero, em princípio, o romance Boca do Inferno como uma escrita que entrelaça o romance ensaístico e o romance histórico e que, ao mesmo tempo, incorpora, nas entrelinhas dessa hibridização, dados biográficos de importantes escritores literários, como Gregório de Matos e Antonio Vieira, nomes que, a saber, se tornaram referências nas historiografias literárias, estudos de crítica, biografias e ainda outros registros históricos escritos aqui no Brasil. Enxergamos, ainda, nas entrelinhas do romance, questionamentos que se voltam contra alguns dos critérios, valores literários, pressupostos e convenções que foram historicamente canonizados e que, a saber, vem sendo perpetuados ao longo dos anos. Iremos nos debruçar sobre o romance com o intuito de analisar e compreender como a autora arquitetou esse diálogo crítico questionador. Os autores que, em princípio, norteiam nossas abordagens teórico?críticas sobre o romance e a narrativa, serão: a) G. Lukács (1983) para estudar o romance histórico e para pensar na possibilidade de se considerar a presença, em Boca do Inferno, de um herói em confronto com o mundo que o oprime; b) B. Tomachevski (1976), W. Kaiser (1957) e K. Hamburger (1975) para estudar a temática e as fronteiras do gênero romanesco. Acreditamos que é relevante esclarecer que já há vários trabalhos que consideram o romance Boca do Inferno como metaficção historiográfica. Nossa perspectiva não vai por esse caminho, vai em outra direção, portanto, não nos ampararemos nas considerações articuladas por Linda Hutcheon. Estudaremos também as obras de historiografia literária brasileiras escritas por S. Romero (1980), J. Veríssimo (1915), N. W. Sodré (1964), A. Candido (1993), A. Bosi (1992). Para não deixar de lado discussões sobre o Barroco brasileiro, e sobre Gregório de Matos, estudaremos as obras de J. Amado (1992), H. Campos (1989) M. Wisnik (1976), R. Chociay (1993), J. A. Castelo (1960) e J. A. Hansen (2004). Vamos nos amparar ainda em alguns estudos críticos que já foram defendidos em teses e dissertações envolvendo o romance Boca do Inferno, como, por exemplo, a dissertação de mestrado nomeada como Ficção e história no romance Boca do Inferno (2003) e, na tese de doutorado Refigurações de nação no romance histórico e a paródia moderna de Ana Miranda (2009), ambos os textos de Eunice de Moraes. Consideraremos ainda a tese de doutorado, de Ivete Monteiro Azevedo, intitulada A expressão do tempo no romance histórico: um estudo em Boca do Inferno, de Ana Miranda (2008). Concluímos que o presente trabalho, enfim, nos oferece uma importante discussão que merece ser investigada. Hoje ministra aulas particulares e, trabalho como professor de Literatura no Colégio Ateneu. (Fonte: Currículo Lattes)