Homossexualidade e sociedade durante a reforma da Igreja medieval (1050-1102)

Resumo

Os registros da homossexualidade ao longo da história são construídos por diferentes imagens, conceitos, recursos linguísticos e discursos. O comportamento sexual e afetivo se expressa a partir de interações socioculturais específicas a cada sociedade. No século XI, geralmente, as práticas sexuais designadas pelo termo "sodomia" envolvem parte do universo que podemos atribuir à homossexualidade. Embora no discurso monástico a repressão às relações sexuais sejam parte do discurso teológico, o amor e a afetividade entre homens era tolerado e até mesmo encorajado. Essa pesquisa analisará as razões pelas quais, no pensamento monástico - socialmente hegemônico até, pelo menos, meados do século XII - o sexo é condenado enquanto o amor é louvado. O faremos a partir do estabelecimento de quadros comparativos entre ambientes e atuação pública de figuras proeminentes do monacato e suas obras, de natureza textual complementar, a saber, as cartas e meditações de Anselmo de Canterbury, e as epístolas de Pedro Damiano. Pretende-se com isso, compreender de forma mais aprofundada como as temáticas do amor e da sexualidade estão envolvidas em visões de sociedade em disputa no contexto da chamada "reforma da Igreja medieval".