Análise dos genes expressos em glândulas de veneno de Pseudonaja textilis (Elapidae: Serpentes).

Resumo

Acidentes e mortes por ofidismo são um problema mundial de saúde pública. O veneno de serpentes é produzido por glândulas especializadas que sintetizam e secretam uma ampla gama de compostos: proteínas, enzimas, peptídeos e algumas moléculas não protéicas. Esta diversidade é uma fonte valiosa de moléculas e seu estudo é indispensável na compreensão de processos fisiológicos e no desenvolvimento de soros venenos-específicos com eficácia melhorada. O esforço em descrever detalhadamente o "toxinoma" é geralmente direcionado no isolamento de toxinas responsáveis por atividades conhecidas reduzindo chances de encontrar constituintes atípicos e desconhecidos. Toxinas expressas em baixa quantidade são descobertas mais facilmente pela construção de uma biblioteca de ESTs. Tal abordagem está provando ser valiosa e tem maior sensibilidade em descrever seqüências de toxinas isoladas previamente e na identificação de toxinas inesperadas ou sub-expressas, o que não seria fácil por metodologia bioquímica convencional. A espécie Pseudonaja textilis (Elapidae) produz o segundo veneno mais tóxico do mundo, sendo a causa mais comum de morte por mordida de serpentes da Austrália. Seu veneno é composto por ativadores de protrombina, inibidores de serino proteases, fosfolipases A2, e neurotoxinas pré e pós-sinápticas, sendo a "textilotoxina" a mais potente já isolada de serpentes terrestres (3% do peso e 70% de sua letalidade). Com este inédito estudo do transcriptoma de glândula de veneno da P. textilis, espera-se identificar toxinas incomuns, moléculas relacionadas a toxinas de grupos distantes de serpentes, novas famílias de toxinas e gerar dados que contribuam na compreensão dos mecanismos moleculares de produção e secreção de veneno, assim como as relações filogenéticas do grupo.