Avaliação clínica, sorológica e parasitológica de serpentes naturalmente infectadas com Cryptosporidium serpentis

Resumo

Protozoários do gênero Cryptosporidium são parasitos que completam seu ciclo biológico na superfície de células epiteliais dos tratos gastrintestinal, respiratório e urinário de mamíferos, aves, répteis e peixes. Atualmente existem duas espécies de Cryptosporidium classificadas em répteis: Cryptosporidium serpentis em serpentes e Cryptosporidium varanii em lagartos. Em serpentes, a criptosporidiose pode se manifestar de forma clínica ou subclínica. Algumas serpentes, mesmo sem manifestar sintomas clínicos, podem desenvolver uma patologia severa (gastrite hipertrófica) com eliminação contínua e intermitente de oocistos, que pode perdurar anos. Em serpentes, essa enfermidade se manifesta como gastrite, incluindo anorexia, regurgitação pós-prandial, letargia, perda progressiva de peso e aumento de volume em região mediana do corpo, de consistência firme, sendo geralmente fatal. Cryptosporidium serpentis em répteis vem assumindo importância crescente nos criadouros conservacionistas e comerciais, centros de pesquisa e grandes coleções de serpentes, uma vez que, principalmente em serpentes, pode ser letal e dizimar toda a população existente nesses plantéis. A falta de um tratamento efetivo para criptosporidiose quase sempre resulta na eutanásia dos animais com o intuito de controlar a infecção no criatório, muitas vezes levando à perda de espécies importantes e raras do plantel. Com esse intuito, é muito importante o controle da criptosporidiose em grandes centros que visam à extração de peçonha para posterior liofilização ou produção de vacinas, uma vez que um surto pode acabar com a toda coleção existente, levando assim a prejuízos inestimáveis. Este projeto visa a padronização do ensaio imunoenzimático indireto (ELISA), para detecção de anticorpos anti-Cryptosporidium em serpentes. Será realizado ainda acompanhamento do desenvolvimento da fase clínica, em serpentes positivas para oocistos de Cryptosporidium, por meio de análise da sintomatologia, do exame parasitológico de amostras fecais e de conteúdo gástrico dos animais que vierem a óbito e classificação molecular dos isolados de Cryptosporidium. Serão utilizadas 13 serpentes adultas naturalmente infectadas por C. serpentis, distribuídas em 5 gêneros e 7 espécies (3 Eunectes murinus, 2 Epicrates cenchria, 4 Pantherophis gutatta, 1 Python regius, 1 Boa constrictor, 1 Bothrops jararaca e 1 Botrhops jararacussu, sendo 6 serpentes que apresentam os sintomas clínicos e 7 com enfermidade subclínica e mais 8 serpentes adultas não infectadas, que serão utilizadas como grupo controle negativo, divididas em 4 gêneros e 4 espécies (2 Liophis miliaris, 2 Boa constrictor, 2 Epicrates cenchria e 2 Oxyrhopus guibei) alojadas no Biotério de Serpentes do Instituto Butantan, em São Paulo. O desenvolvimento do presente projeto permitirá, por meio da determinação de anticorpos contra Cryptosporidium serpentis, em serpentes, esclarecer alguns aspectos relacionados à biologia e à epidemiologia desse parasito, em répteis, o que é fundamental para fornecer subsídios para o controle dessa enfermidade em criatórios comerciais, zoológicos e em serpentários que visam à produção de soro-antiofídico. (AU)