Investigações científicas nos museus paulistas

Resumo

A estreita colaboração entre cientistas, conservadores, restauradores, curadores e historiadores da arte tem sido eficaz e de grande valia para a pesquisa científica nos diferentes museus do mundo. As investigações científicas em obras de arte são rotineiramente realizadas na Europa e Estados Unidos há algumas décadas, no Brasil alguns trabalhos científicos começaram no final da década de 90. Uma investigação metódica de uma obra nos ajuda a compreender os materiais e técnicas que foram utilizadas para criá-lo, e o que aconteceu com ela ao longo do tempo. Interpretar as informações obtidas através das análises científicas, concomitantemente com o conhecimento da história da arte nos permite situar o "objeto" dentro do contexto de sua própria época, e compreende-lo hoje como o vemos. Desde 2003 o grupo de Física aplicada com aceleradores do Instituto de Física da USP tem desenvolvido várias metodologias não-destrutivas para serem utilizadas na caracterização e análise de obras de arte e arqueológicos e bens culturais. Os métodos de análise abrangem técnicas atômico-nucleares e processos de imageamento. Alguns trabalhos já estão sendo desenvolvidos entre o Instituto de Física, os museus da USP e a Pinacoteca do Estado de São Paulo. As técnicas atualmente utilizadas pelo grupo de Física aplicada com acelerados são as técnicas PIXE e PIGE (emissão de Raios X ou Gamas Induzida por Próton), RBS (Rutherford Back-Scattering) e a técnica de Fluorescência de Raios X (XRF). Estas são úteis para identificar e caracterizar os elementos presentes nas camadas superficiais de materiais de diversas naturezas como metais, cerâmicas e pigmentos utilizados pelo artista nas pinturas de cavalete entre outros. A análise feita com o método XRF é muito adequada para análises in situ com o equipamento portátil. O grupo GFAA tem utilizado também outras metodológicas não destrutivas, para estudo de objetos de arte, como técnicas por meio de imageamento digital de alta resolução (Imagem com Luz Visível, Reflectografia de Infravermelho próximo, Fluorescência Visível com Radiação de Ultravioleta, Luz Rasante, Luz transmitida e Radiografia Digitalizada), que podem ser usados para examinar e documentar objetos artísticos e de patrimônio histórico cultural. Estas técnicas têm permitido desvelar nuances do processo de criação do artista e de sua obra, através da analise dos desenhos subjacentes, pendimentos do artista, intervenções de restauro e também pode auxiliar na autenticidade da obra. Os exames científicos descrito auxiliam a conservação preventiva, a restauração, a Ciência da Conservação e a História da Arte, através de uma metodologia multi e interdisciplinar. Os resultados obtidos nos levam a compreender os métodos e materiais utilizados na produção de uma obra de arte, sendo essencial para uma abordagem segura e eficaz para o tratamento da conservação e preservação do acervo, e a história do artista e da obra. Em particular este projeto de pesquisa pretende formalizar a colaboração com os diferentes museus paulistanos como a Pinacoteca, Museu de Arte Contemporânea, Museu Paulista, Museu de Arqueologia e Etnologia e Instituto de Estudos Brasileiros visando o estudo e análises sistemáticas de obras de arte de seus acervos tais como pinturas de cavalete de artistas brasileiros, objetos cerâmicos, metálicos, papéis, fotografias, etc. Neste sentido serão utilizadas as técnicas de imagens acopladas à caracterização elementar dos materiais. Esta união de metodologias permite revelar características das obras e dos artistas vinculados a elas. As informações obtidas permitirão a formação um banco de dados sobre matérias, pigmentos e técnicas de manufatura principalmente a caracterização dos pigmentos utilizados pelos pintores brasileiros. O projeto volta-se ainda a subsidiar a capacitação de profissionais para atuação nesta área interdisciplinar, permitindo-lhes a compreensão dos princípios, vantagens e limitações das técnicas. (AU)