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Relações familiares, autocontrole e delinquência: um teste empírico da teoria geral do crime

Texto completo
Autor(es):
Ana Beatriz do Prado Schiavone
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Dissertação de Mestrado
Imprenta: Ribeirão Preto.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP). Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (PCARP/BC)
Data de defesa:
Membros da banca:
Marina Rezende Bazon; Juan García García; Luiz Guilherme Dacar da Silva Scorzafave
Orientador: Marina Rezende Bazon
Resumo

A Teoria Geral do Crime (TGC) considera o autocontrole a variável central na explicação do cometimento de delitos, à medida em que indivíduos que apresentam baixo autocontrole estão mais suscetíveis a tentações e influências momentâneas, levando menos em consideração os riscos de comportamentos antissociais e os objetivos a longo prazo. Segundo a teoria, o desenvolvimento do autocontrole está intrinsecamente relacionado à socialização familiar. Estudos neurocientíficos recentes, como o Modelo de Sistema Dual (MSD), confirmam uma relação entre altos níveis de impulsividade e busca de sensações na adolescência com o aumento de comportamento antissociais, por uma lacuna temporal entre a maturação do sistema socioemocional e o de controle cognitivo. Apesar de a TGC ser uma das teorias criminológicas mais testadas e influentes, o enfoque nas variáveis familiares é menos proeminente na maioria dos estudos e sua aplicação no contexto sociocultural brasileiro é escassa. O objetivo da presente pesquisa foi testar a aplicabilidade da TGC na explicação da delinquência no Brasil, considerando sua relação com aspectos familiares (através do autocontrole), além de checar uma possível relação entre diferenças nos níveis de autocontrole e diferenças no engajamento infracional, adotando uma abordagem centrada na pessoa. A pesquisa foi realizada no escopo da quarta onda do International Self-Report Delinquency Study (ISRD4), um estudo colaborativo e transcultural sobre vitimização e delinquência na adolescência. Seguiu-se o protocolo padronizado de pesquisa do ISRD. A coleta de dados foi realizada em 54 escolas públicas e privadas de Ribeirão Preto e Sertãozinho, de maneira aleatorizada e representativa, com uma amostra final de 1.909 adolescentes entre 13 e 17 anos (M = 15, DP = 1,2), dos quais 49,6% do gênero feminino, 48,3% do gênero masculino e 2,1% não-binário. Foram feitas análises de Modelagem de Equações Estruturais (SEM) para checar a relação entre as variáveis de interesse e, também, uma análise centrada na pessoa, por meio do agrupamento em clusters em função dos níveis de autocontrole. Verificou-se que o vínculo familiar e a supervisão parental predizem significativamente a impulsividade e a busca por sensações, sendo que o vínculo influencia as duas dimensões do autocontrole e a supervisão tem um efeito mais forte na busca por sensações, a qual foi o único preditor significativo de delitos gerais e violentos. Com relação aos clusters, os indivíduos com menor autocontrole também apresentaram menores índices de vínculo e supervisão, além de reportarem mais delitos, do que os com maiores níveis de autocontrole. O grupo com maior busca por sensações relatou mais delitos que os impulsivos e que os com alto autocontrole, sugerindo que a busca por sensações possa ter mais peso no cometimento de delitos por colocá-los em contextos mais criminogênicos e afastados da supervisão parental. De modo geral, os resultados indicam que a TGC oferece uma explicação parcial para o envolvimento de adolescentes brasileiros em atividades delituosas. O estudo traz contribuições relevantes, do ponto de vista teórico e científico, à medida em que auxilia no entendimento dos diferentes papéis das dimensões do autocontrole na conduta infracional e enfatiza a importância da socialização familiar adequada para o desenvolvimento social e cognitivo dos jovens. (AU)

Processo FAPESP: 22/13907-3 - Relações familiares, autocontrole e delinquência: um teste empírico da Teoria Geral do Crime.
Beneficiário:Ana Beatriz do Prado Schiavone
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Mestrado