Fronteiras da Europa: a corrida de touros vista da Paris literária entre-guerras

Resumo

Ao longo da década de 1930, o antropólogo e escritor francês Michel Leiris e o escritor norte-americano Emest Hemingway enfrentaram cada um a seu modo, e, aparentemente, sem contato entre si os mesmos temas: a África, a tauromaquia, a dimensão autobiográfica, a escrita. Cortando esta série, repousa uma noção compartilhada de realismo, ancorada na verdade das palavras: estas devem emular o concreto e pautar-se na experiência pessoal. Através de informações do contexto, é possível localizar o esboço dessa diretriz no início da década de 1920, em Paris, período de formação para ambos: para o nativo Leiris, entre as vanguardas pictóricas e literárias, até seu recrutamento como secretário-arquivista e pesquisador da Missão Dacar-Djibuti (1931-1933), importante expedição lingüística e etnográfica financiada pelo governo francês; para o emigrante Hemingway, entre os artistas expatriados norte-americanos, ligados às vanguardas européias, até seu retomo, em 1928, aos Estados Unidos. Nesta pesquisa de etnografia histórica, ambiciono descrever, de modo comparativo, as redes de relações sociais e, deste modo, os pontos de vista de Leiris e Hemingway no entre - guerras, isto é, de seus anos de formação às redações dos livros afins nos anos 1930. Sigo um trajeto sinuoso que oscila entre texto e contexto e aplico uma dupla leitura considero a intenção do autor, ao mesmo tempo em que leio a contrapelo para estudar os condicionantes e práticas sociais que ensejaram o enfrentamento de projetos afins e franquearam o uso das classificações "escritor" e "etnógrafo". (AU)