Benjamin Constant e o liberalismo da ordem: A Revolução Francesa já terminou?

Resumo

Este projeto se inscreve em uma pesquisa de doutorado sobre o problema do arbítrio na obra de Benjamin Constant (1767-1830). A etapa da pesquisa em questão se concentra no diálogo de Constant com uma corrente de pensamento político que se propõe chamar de "liberalismo da ordem". O termo é uma adaptação da expressão "autoritarismo liberal", utilizada por Howard Brown, e especialmente por Andrew Jainchill, para se referir à cultura política que presidiu à tentativa de finalização da Revolução Francesa por meio da construção do sistema bonapartista. Segundo Jainchill, a base teórica do autoritarismo liberal pode ser encontrada nos escritos de Pierre-Louis Roederer e Emmanuel-Joseph Sieyès. O presente projeto de pesquisa partilha com Jainchill a visão segundo a qual há aí uma corrente de pensamento político singular e importante, porém propõe chamá-la de "liberalismo da ordem" em vez de "autoritarismo liberal", a fim de destacar que o ponto de partida desses autores, no período termidoriano, não era propriamente um sistema autoritário já pré-concebido, mas antes uma defesa da ordem e uma nova concepção do Poder Executivo, as quais, na visão dos autores em questão, não implicavam necessariamente a elevação de um governo autoritário. Esta pesquisa considera Jacques Necker como um dos principais inspiradores do liberalismo da ordem, e Roederer e Adrien de Lezay-Marnésia como seus principais propagandistas, no interior do campo republicano, a partir do 9 Termidor. O objetivo desta etapa da pesquisa de doutorado, realizada na França, é investigar os fundamentos do embate desses autores com Constant durante o Diretório e o início do Consulado. A face mais visível desse embate é a polêmica entre Constant e Lezay, primeiro sobre a dependência ou independência do governo republicano em relação à maioria nacional, depois sobre a avaliação histórica do Terror. A hipótese da pesquisa é que essas duas divergências têm sua origem em leituras diferentes da Revolução Francesa, as quais resultam em respostas diferentes à questão sobre se ela já terminou ou não. Essa divergência resulta, por outro lado, em formas diferentes de lidar com o problema do arbítrio - o tema central da pesquisa de doutorado.