De onde é quase o horizonte: o lirismo objetivo de Orides Fontela

Resumo

O objetivo desta pesquisa é examinar, nos poemas que compõem o livro Alba (1983) de Orides Fontela, o processo de desarticulação de sua subjetividade lírica, regida pela "estrutura de horizonte" instauradora, por sua vez, do que denominaremos por "semântica da proximidade". Acreditamos que tal processo de mobilização do sujeito lírico opera por meio da inter-relação estabelecida entre o "eu" e os dados objetivos do real, de maneira que essas duas instâncias se experimentem mutuamente, em um processo de construção/desconstrução do eu lírico "fora de si", sempre "atento ao real". Neste movimento duplo, advém a nossa hipótese de pesquisa: a de que a escritura de Orides Fontela se aproximaria ao que denominamos como "lirismo objetivo": categoria lírica, aparentemente contraditória, que poderia realizar-se justamente por meio do tenso convívio entre o eu poético e os "dados objetivos" instaurados nos poemas, indiciado pela "semântica da proximidade" arquitetada texto a texto da poeta. Como fundamentos teóricos para a análise, destacamos os estudos M. Collot, em seu ensaio "O sujeito lírico fora de si" (2004) e dos livros La poésie moderne et la structure d'horizon (2005) e La matière-émotion (1997); de M. Blanchot, em seu O livro por vir (2013), e em O espaço literário (1987), para abalizar nossas hipóteses sobre a potência de criação da linguagem poética, do deslocamento do eu lírico "fora de si", da "estrutura de horizonte" e do "lirismo objetivo". A metodologia de análise do corpus de pesquisa privilegia a apreciação crítica dos poemas de Alba, problematizada tanto a partir do recorte teórico eleito para a pesquisa quanto pela "fortuna crítica" da autora. (AU)