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Dobra, redobra, desdobra: comentário e abertura composicional de obras musicais

Texto completo
Autor(es):
Max Packer
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Tese de Doutorado
Imprenta: São Paulo.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP). Escola de Comunicações e Artes (ECA/SBD)
Data de defesa:
Membros da banca:
Silvio Ferraz Mello Filho; Maurício Funcia de Bonis; Sergio Kafejian Cardoso Franco; Denise Hortência Lopes Garcia; Gustavo Rodrigues Penha
Orientador: Silvio Ferraz Mello Filho
Resumo

Esta tese é dedicada ao estudo de processos composicionais que se desencadeiam a partir de obras musicais preexistentes e acabadas. Dentre a enorme variedade de possíveis abordagens criativas a materiais musicais preexistentes, o presente estudo se volta para o que, a exemplo de Berio, denominamos comentário composicional: processos que se caracterizam, grosso modo, por operações de cunho intrínseco, isto é, que buscam desdobrar uma obra preexistente através da exploração de potencialidades latentes na própria obra e nos processos formativos que lhe são inerentes. Para tanto, nossa abordagem orienta-se por uma dupla pergunta de faces complementares: pela abertura que (a) se pode reconhecer nas obras (em suas dobras) e que (b) emerge por meio de novos processos (nas redobras e desdobras). A fim de investigar de forma ampla as condições para que uma obra musical já consolidada possa vir a ser tomada como ponto de partida - e como objetoproblema - para um nova composição, a primeira etapa de nossa exposição - capítulo I - busca examinar um princípio de abertura composicional. Conforme a hipótese que assumimos, tal abertura seria imanente às obras e apreensível na forma de um excedente de potencialidades criativas que emerge do inacabamento e da não-univocidade dos processos que as formaram. As noções de atual e virtual elaboradas por Deleuze e o circuito dinâmico - de virtualizações e reatualizações - no qual elas interagem, servirão como chave conceitual que auxiliará o exame deste principio de abertura intrínseca em peças de autores diversos, entre eles Pergolesi, Bach, Schumann, Stravinsky, Berio e Andriessen. Os capítulos II e III se voltam para duas modalidades de reelaboração de obras preexistentes que, de modos distintos, acionam a tensão entre o acabamento da obra e o inacabamento de seus processos. No capítulo II, nos debruçamos sobre a prática da transcrição a fim de interrogar em que medida a operação básica que a caracteriza, a saber, a reconstrução de uma peça em um meio instrumental distinto daquele para o qual fora anteriormente concebida, pode implicar uma intervenção em níveis processuais, acessando e refazendo dimensões formativas da obra original. À luz das reflexões estéticas de Lévi-Strauss - em especial da noção de modelo reduzido -, e a partir da análise de transcrições de Bach, Stravinsky, Webern, Messiaen, Sciarrino e Kurtág, propomos que a transcrição possa ser entendida como um processo de reatualização, que traz à tona dimensões que se mantinham latentes na versão original e assegura o caráter composicionalmente aberto das obras. No capítulo III, examinamos uma variedade de exemplos - de Monteverdi aos Chemins de Berio - em que uma obra preexistente, tomada como objeto de um comentário composicional, é integralmente conservada em meio à expansão de seu efetivo instrumental e/ou o desdobramento, \'em tempo real\' e in loco, de seus processos formativos. O objetivo geral deste trabalho é fundamentar teoricamente, com base em uma diversidade de exemplos de diferentes períodos históricos, uma prática composicional que se desenvolva como um modo de reflexão explícita e direta sobre obras e processos musicais preexistentes. Ao final, complementamos este percurso relatando um conjunto de estratégias de comentário desenvolvidas em nossa própria prática composicional. (AU)

Processo FAPESP: 14/08908-4 - Abertura - gesto - mito: o comentário enquanto problema composicional a partir da obra de Luciano Berio
Beneficiário:Max Packer
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Doutorado