Toxinas de Acanthamoeba spp. como fatores de virulência em infecções da superfície ocular

Resumo

Amebas de vida livre do gênero Acanthamoeba são organismos eucariotos, aeróbios e de ampla dispersão na natureza, os quais podem habitar ambientes aquáticos e terrestres. Ao longo dos últimos anos, estes protozoários têm assumido relevância em patologias humanas, incluindo infecções fatais e doenças incapacitantes, envolvendo principalmente sistema nervoso e olho. Os dados epidemiológicos acerca das encefalites por Acanthamoeba spp. no Brasil são escassos. Por outro lado, os casos clínicos de infecção ocular por Acanthamoeba spp. associados ao epitélio da córnea (ceratite amebiana), por exemplo, têm apresentado um aumento anual. O processo de infecção de Acanthamoeba spp. na córnea ocorre em três etapas: (1) adesão superficial do protozoário, (2) invasão e destruição do epitélio e (3) degradação do estroma seguida do estabelecimento da úlcera. Em todas as etapas de infecção, o protozoário pode produzir e secretar toxinas com diferentes espectros de ação no tecido corneano, induzindo morte celular, degradação de componentes da matriz celular e inibição dos processos de cicatrização e regeneração tecidual. O conjunto das toxinas extracelulares produzidas e secretadas por Acanthamoeba spp. é denominado secretoma e pode ser constituído de enzimas proteolíticas e fosfolipases de diferentes classes, cujo alvo e mecanismos de ação são ainda pouco compreendidos. Recentemente, o secretoma de isolados clínicos de Acanthamoeba spp. foi parcialmente caracterizado por nosso grupo de pesquisa e a diversidade de enzimas proteolíticas produzidas pelo protozoário foi correlacionada com a severidade clínica observada nos pacientes. Neste projeto de pesquisa pretendemos isolar e identificar as toxinas produzidas por Acanthamoeba spp. a fim de (i) compreendermos os principais mecanismos de patogenicidade do protozoário na biologia celular do epitélio da córnea e (ii) alcançarmos soluções práticas voltadas para inibição total/ parcial da atividade enzimática expressa por trofozoítos de Acanthamoeba spp. nas diferentes etapas de infecção no hospedeiro. Esperamos obter resultados indicativos para o desenvolvimento de potenciais ferramentas biotecnológicas voltadas para inativação da atividade proteolítica e/ ou indução da morte celular do protozoário, minimizando os efeitos citotóxicos causados por Acanthamoeba spp. na superfície da córnea que podem proporcionar melhor qualidade de vida ao paciente. (AU)