Toxicidade de compostos inibidores de corrosão sobre um mexilhão neotropical (Perna perna)

Resumo

A corrosão metálica é um problema econômico, técnico-científico e ambiental que consome mais de 3% do PIB mundial, sendo particularmente severo e crítico em termos de segurança civil nas infraestruturas imersas no mar. As tecnologias atuais para combater a corrosão marítima incluem a aplicação de Inibidores de Corrosão (IC) em tintas protetivas/primárias. Um dos problemas, é que a maioria destes IC (ex. 2-mercaptobenzotiazole) são tóxicos para os organismos aquáticos, e dessa forma, recentemente tem sido proposto a sua substituição por moléculas de base biológica (ex. gluconato de sódio, ácido glutâmico), supostamente com menor risco ambiental. Além disso, sugere-se o uso dessas substâncias numa forma nanoestruturada visando (a) melhor eficiência na ação anti-corrosiva, devido à liberação controlada dos IC para o meio circundante apenas quando o fenômeno de corrosão surge; (b) diminuição dos fenômenos de incompatibilidade entre ingredientes das tintas e; (c) uma diminuição do impacto ambiental dos IC sobre a biota marinha. Esta tecnologia favorece portanto as empresas fabricantes de tintas (necessidade de uma quantidade ínfima deste tipo de aditivos e melhoria dos indicadores de sustentabilidade ambiental do negócio) e os proprietários das infraestruturas marítimas (manutenções mais espaçadas representam poupanças econômicas massivas). Nesse sentido, a imobilização dos IC em nanomateriais pouco tóxicos, como nanoargilas (hidróxidos de dupla camada; LDH), ou em nanocápsulas mesoporosas de sílica (SiNC) representa um valioso avanço tecnológico em potencial. Contudo, como se tratam de materiais recentes ou ainda em desenvolvimento, não existem naturalmente estudos relatando os efeitos ecotoxicológicos dessas substâncias, tanto nas suas formas livres quanto nanoestruturadas em organismos marinhos, tanto a nível individual, fisiológico, celular ou bioquímico. O objetivo do presente projeto é, portanto, determinar a toxicidade dos IC gluconato de sódio (SG) e ácido glutâmico (GA), nas suas formas livres e nanoestruturadas, sobre a espécie Perna perna, em experimentos de curta e longa duração. Assim, serão testados tanto o SG e o GA, quanto os respectivos nanomateriais anti-corrosivos (LDH-SG e LDH-GA e/ou SiNC-SG e SiNC-GA), desenvolvidos pela Universidade de Aveiro e fornecidos ao abrigo do projeto NANOGREEN em curso que envolve equipes da UA, UNESP e USP. Para tanto, em condições controladas de laboratório, indivíduos de Perna perna serão expostos a um gradiente de concentração dessas substâncias e serão avaliadas, após dois períodos (96h e 14 dias), as respostas em diferentes níveis de organização biológica, i.e. níveis bioquímico, celular, fisiológico e tecidual, bem como potencial bioacumulação. Os resultados obtidos permitirão elucidar os principais mecanismos de ação dessas substâncias, de forma a fornecer dados sobre os riscos ecológicos relacionados com esses compostos, para os quais não há estudos em espécies neotropicais e subtropicais. Além disso, fornecerão importantes informações para o desenvolvimento e/ou ajustamento do desenho de novos nanomateriais anti-corrosivos, de forma a reduzir os impactos ambientais do uso destes compostos, seu biomonitoramento, além de gerar subsídios para futuras legislações ambientais. (AU)