O Lugar dos Eunucos da Corte nos Impérios Neoassírio e Aquemênida: Uma Análise Comparativa.

Resumo

o objetivo da presente pesquisa é realizar uma análise comparativa do lugar dos eunucos da corte nos Impérios Neoassírio e Aquemênida, a partir do exame da (suposta) figuração de eunucos em relevos do "palácio" de Dario I (522-486 a.C.) em Persépolis (ROOT, 1979, p. 78-80; KUHRT, 2007, p. 592; YAMAUCHI, 1996, p. 263) e Apadana (KUHRT, op. cit., p. 536; SCHMIDT, 1953, pl. 121-123; 148-149), e de alguns relevos de Assurbanipal (668-631 a.C.), especialmente no Palácio Norte em Nínive (BARNETT, 1976; KERTAI, 2015, p. 167 et seq.); bem como sua menção nas inscrições régias de Assurbanipal (RINAP 5), ou (sua ausência) no corpus persa (SCHMITT, 2009) - neste último caso, complementada mediante o recurso crítico às fontes da tradição clássica remota (Heródoto, Xenofonte e Ctésias). O estranhamento proporcionado pela instituição dos eunucos nas audiências ocidentais prejudicou seu estudo, seja alimentando um discurso "orientalista" a ressaltar a agência política de homens considerados "afeminados" (HALL, 1989, p. 157), seja ao afastar o interesse dos especialistas, que tenderam a minimizar o papel dos eunucos na política dos impérios orientais (TOUGHER, 2008, p. 14). Nossa análise busca superar tais preconceitos e resgatar os eunucos enquanto (provável) peça central dos impérios assírio e persa. Sugere-se, ademais, o entendimento de corpos eunucos e suas figurações enquanto matérias mediadoras que viabilizam a agregação em torno da autoridade imperial (LATOUR, 2012; KHATCHADOURIAN, 2016). Por fim, a análise comparativa busca reforçar o elo da Pérsia Aquemênida com seus antecessores neoassírios, e a incorporação desta instituição conforme as necessidades práticas de cada império.