Mapeando diferentes perfis e sistematizando formas de participação política de brokers.

Resumo

Muitos dos indivíduos que têm participação política ativa nas campanhas eleitorais nem sempre chegam a se candidatar ou a se eleger, mas se tornam um importante veículo para levar as demandas das comunidades aos gabinetes; ao mesmo tempo em que, no período eleitoral, apresentam-se aos eleitores como referência para decisões sobre o voto em um contexto de alto número de candidatos(as). Esses intermediários, os brokers, são agentes políticos identificados pela literatura que trabalham na intermediação entre esses dois atores. Zarazaga (2014), estudando o caso argentino, chama a atenção para o fato de que brokers, apesar de exercerem um papel crucial nas eleições, ainda contam com poucas pesquisas e sistematizações sobre seu perfil e modos de atuação. Ainda que existam interessantes trabalhos etnográficos, como as pesquisas de Hoyler (2022) e Koster (2012), há, também no Brasil, a necessidade de mais pesquisas qualitativas sobre tais intermediários. Em se tratando de cidades com população mais numerosa, nas quais o contato entre candidatos e eleitores não tem como se dar de forma direta e o número de candidatos(as) é bastante alto, o papel dos brokers se vê ainda mais proeminente e relevante, pois se tornam eles e elas as pessoas de confiança no âmbito local e o elo entre esses dois pontos, no que concerne à prática política, inclusive para além do período eleitoral. Ao levar essas demandas, eles acabam também influenciando, de algum modo, no destino da política pública. Ainda que vários estudos se dediquem a entender e sistematizar o perfil das elites políticas (Codato et al., 2014; Cervi et al., 2015), isto é, dos candidatos(as) e diversas outras pesquisas tenham seu enfoque no perfil e comportamento do eleitorado (Borba, 2005; Veiga, 2007), muito menos atenção foi dada até hoje ao perfil dos intermediários. De um modo geral, o papel dos brokers, nos estudos da Ciência Política, tende a aparecer de forma mais evidente quando relacionado a leituras de mecanismos clientelistas (Stokes et al., 2013). Koster (2012), desde o campo da antropologia, em uma etnografia, faz uma importante análise da atuação dos brokers, chamando atenção para a complexidade dessa dinâmica política. Sabendo que o perfil dos atores que desempenham esse rol de intermediação varia, podendo ir desde uma liderança com caráter local, como presidentes de associações de bairro e líderes comunitários, até lideranças partidárias, vereadores e prefeitos (Avelino, Biderman & Barone, 2012), existe uma necessidade de que, dentro do campo da Ciência Política, sejam realizados mais estudos que se aprofundem no perfil desses agentes, sistematizando suas diferentes formas de atuação e trajetória. Tendo em vista o contexto acima explicitado, o objetivo deste projeto é, a partir de entrevistas em profundidade e análises dos perfis e formas de participação políticas de intermediários envolvidos no processo eleitoral na Cidade de São Paulo, estabelecer tipificações para diferentes brokers no processo político, seja considerando aqueles que se mantém como lideranças locais, em seus bairros e vizinhanças, aqueles que vão trabalhar internamente nos gabinetes ou ainda aqueles que ocupam outros papéis sociais no processo político (por exemplo, pastores), os quais seguem sendo de fundamental relevância no momento da escolha do voto. Realizar a pesquisa com enfoque ao que ocorre "no chão" das interações políticas permite que sejam mais bem cobertas duas lacunas da literatura: a primeira delas, no que diz respeito a quem são esses atores intermediários (de onde provém, como atuam, qual sua relação formal ou informal com partidos); e a segunda delas concerne ao diferente repertório de atuação pelo qual podem optar (Zarazaga, 2014).Neste processo, o enfoque de gênero também será contemplado, buscando identificar como mulheres integram essas dinâmicas de negociação política.