Efeitos geométricos em paisagens fragmentadas: um novo enfoque de investigação em Ecologia de Paisagens

Resumo

Apesar de os efeitos da perda e fragmentação de habitat sobre a biodiversidade serem bem conhecidos, ainda há muita incerteza sobre os mecanismos ou processos causais ligando as alterações da paisagem com as alterações bióticas correspondentes. As hipóteses propostas até o momento para explicar esses efeitos invocam processos ecológicos tais como o equilíbrio dinâmico entre extinção e imigração, o uso de recursos biológicos pelas espécies e a influência de distúrbios. Com base nessas hipóteses, a maioria dos estudos assume que, na ausência de tais processos ecológicos, a distribuição dos organismos ao longo das áreas de habitat da paisagem seria uniforme. No presente projeto, sugerimos que esse pressuposto é inválido devido aos chamados efeitos geométricos, que tendem a reduzir a abundância dos organismos em pequenos fragmentos de habitat e nas proximidades das bordas dos fragmentos, mesmo na ausência de processos ecológicos. Partindo do reconhecimento da existência dos efeitos geométricos, o projeto visa quantificar a importância desses efeitos sobre a distribuição e a abundância dos organismos em paisagens fragmentadas. A hipótese principal é a de que os gradientes de abundância e riqueza observados em paisagens fragmentadas refletem simplesmente os efeitos geométricos. Para testar essa hipótese, serão primeiramente realizadas simulações com paisagens e comunidades biológicas hipotéticas, utilizando diferentes modelos nulos, construídos para quantificar a distribuição dos organismos na ausência dos processos ecológicos. Posteriormente, os modelos serão validados com um extenso conjunto de dados empíricos, relativos à distribuição e abundância de 140 espécies de aves e 39 de pequenos mamíferos, em seis paisagens da Mata Atlântica