A noção de verdade na psicanálise e na filosofia da ciência

Resumo

Entre os diversos pontos de tensão existentes ao se tentar estabelecer um debate produtivo entre psicanálise e ciência, a noção de verdade mostra-se como um objeto de grande complexidade. Tal complexidade deriva do fato de ser uma noção central tanto na filosofia da ciência, que a tem justamente enquanto um horizonte que serve como referencial metodológico, como na psicanálise, que tem na questão da verdade um recorrente tema que contém em si não somente um elemento para se pensar a teoria, mas também um operador clínico. O objetivo desta pesquisa é investigar as noções de verdade utilizadas na psicanálise e na filosofia da ciência, tendo como referências principais o psicanalista Jacques Lacan e o filósofo da ciência Ian Hacking. Para tanto, é necessário realizar um levantamento das noções de verdade para cada um dos autores, levando em consideração suas influências epistemológicas, e prestando especial atenção a possíveis pontos de inflexão internos e às incomensurabilidades entre os paradigmas de verdade utilizados pelos dois autores. Ademais, deve-se considerar o fato de que, em Lacan, tal noção passa por importantes modificações no decorrer de seu ensino, além de ser frequentemente apresentada de modo bastante indireto, o que demanda um estudo pormenorizado da noção neste autor. Em Hacking, trata-se também de uma noção elaborada, com a qual o autor realiza uma subversão em relação ao modo como é tradicionalmente tratado na filosofia da ciência, afirmando que a verdade se encontra mais nos efeitos das ações do que na teoria. Desse modo, realizar um estudo sobre tal noção mostra-se interessante, tendo em vista uma maior organização do campo, a partir do qual pode se estabelecer pontos de proximidade, assim como diferenças irredutíveis.