Arte em Rede: A gênese do paradigma conceitual de arte

Resumo

No começo do século XX, o uso estético de objetos industriais e corriqueiros, originalmente confeccionados sem qualquer intenção ou disposição plástica, estendeu as possibilidades de composição artística para além dos suportes tradicionalmente utilizados, especialmente a pintura e a escultura. Os ready-mades de Marcel Duchamp são a expressão paradigmática desse projeto de estetização do mundo da vida, com sensível impacto na sensibilidade estética do século. O objetivo da pesquisa é investigar esse processo de ruptura artística que acontece na esteira da ampliação formal de repertórios de linguagem. Em especial, pesquisar quais são as configurações relacionais específicas que engendram rupturas bem-sucedidas no mundo da arte. Minha hipótese é a de que os processos de descontinuidade estética são, no nível mais fundamental das relações e interações, rompimentos de natureza social caracterizados por um relativo afastamento das regiões de legitimidade estética. Rupturas artísticas bem-sucedidas - isto é, que ampliam o repertório socialmente compartilhado de linguagem - completariam, portanto, dois movimentos de natureza eminentemente relacional: (i) rompimento com as hierarquias de centralidade e prestígio inerentes à produção de arte tradicional; e (ii) reorganização das relações em um novo eixo de centralidade, indispensável para que as propriedades agenciais do grupo produzam seus efeitos de engajamento. Para investigar as hipóteses de trabalho, pretendo mapear a rede de relações que significou/institucionalizou/difundiu o projeto estético ready-made, usando para isso uma estrutura de tipo ego-network baseada no conjunto de correspondências/relações de Marcel Duchamp.