Como o manejo de fogo afeta as interações entre plantas, polinizadores e formigas no campo rupestre?

Resumo

A organização ecológica e o resultado líquido das redes de interações em uma comunidade podem variar em função das condições do ambiente no qual a comunidade está inserida. Os eventos de fogo podem ser determinantes para a ocorrência e manutenção de certas condições (como presença e qualidade da vegetação) e, consequentemente, das interações entre animais e a vegetação. Nos campos rupestres do Parque Nacional das Sempre-Vivas (PNSV, Minas Gerais), as comunidades tradicionais realizam manejo de fogo com objetivo de promover a floração de espécies da família Eriocaulaceae conhecidas como Sempre-Vivas, que lhes fornece material para artesanato e comercialização. Entretanto, registros verbais e algumas publicações apontam para o declínio de algumas espécies de Sempre-Vivas a partir de um regime de queimas não adequado. Existem lacunas no conhecimento sobre as respostas das plantas e animais ao fogo, assim como sobre a interação entre o fogo e processos ecossistêmicos que influenciam a sobrevivência e a reprodução de plantas. Para além de plantas e polinizadores, a ocorrência de fogo afeta distintos organismos mutualistas da comunidade vegetal, como as formigas, que apresentam recuperação variável das colônias após eventos de fogo e podem ser os primeiros visitantes a retomar as atividades de forrageamento após esses eventos. Em cenários contexto-dependentes de interações, as formigas podem exercer papéis mutualistas ou antagonistas, desde polinizadoras até redutoras de polinização/frutificação, neste caso, pela repulsão de polinizadores frente ao seu comportamento agressivo contra outros visitantes florais. Como base para entender alguns mecanismos ecológicos sob efeitos do fogo, este projeto propõe experimentos e observações em situações de presença e ausência de fogo, relacionados à disponibilidade de recursos florais, às interações e variação de interagentes, bem como ao resultado líquido da reprodução vegetal em função das variações nas interações entre plantas e polinizadores, a germinação e a remoção de sementes. (AU)