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Analise histologica do aparato venenifero e caracterização farmaco-bioquimica da peçonha de Vitalius dubius (Araneae, Theraphosidae)

Texto completo
Autor(es):
Thomaz Augusto Alves da Rocha e Silva
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Tese de Doutorado
Imprenta: Campinas, SP.
Instituição: Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Instituto de Biologia
Data de defesa:
Membros da banca:
Stephen Hyslop; Sebastião Roberto Taboga; Soraia Katia Pereira Costa; Fabio Bucaretchi; Wagner Ferreira dos Santos
Orientador: Stephen Hyslop
Resumo

A aranha Vitalius dubius pertence à família Theraphosidae, que compreende todas as caranguejeiras. Sua distribuição é restrita à região Sudeste do Brasil, principalmente em São Paulo e Minas Gerais. Trata-se de uma espécie urbana, pouco agressiva e que não apresenta registros de acidentes com relevância clínica. O presente trabalho teve como objetivo descrever o aparato venenífero e caracterizar bioquímica e farmacologicamente a peçonha desta aranha. A estrutura do aparato venenífero consiste em duas robustas quelíceras anteriores, com grandes ferrões para imobilização de presas e inoculação de peçonha. Cada quelícera é preenchida por musculatura estriada, responsável pela mobilidade dos ferrões, além de abrigar a glândula de peçonha que, por sua vez, encontra-se imersa nesta musculatura, sem estar ligada à mesma. A glândula é envolta por duas túnicas musculares helicoidais entrelaçadas, responsáveis pela contração da glândula para expulsão da peçonha através de um duto interno ao ferrão. Interna à musculatura, uma camada basal rica em elastina sustenta uma complexa rede epitelial produtora de peçonha. Este epitélio extratificado possui células anastomosadas, com núcleos periféricos e prolongamentos citoplasmáticos voltados para a luz da glândula, organizado principalmente por filamentos de actina. Estes prolongamentos formam reservatórios envolvidos na biossíntese de peçonha. A análise ultra-estrutural deste epitélio revelou a presença de organelas envolvidas na síntese protéica, como núcleo com abundante eucromatina, nucléolo, retículo endoplasmático rugoso, polissomos, além de abundantes: retículo liso, aparato de Golgi, mitocôndrias e vacúolos autofágicos. Durante a fase de produção de peçonha, as principais alterações ultra-estruturais observadas foram compactação e remodelamento do epitélio, abundância de organelas e deformidade de núcleos, bem como a presença de hemócitos nos últimos estágios. A extração de peçonha revelou que as fêmeas possuem rendimento maior, em quantidade absoluta [23,1 ± 2,3 (n=11) e 12,5 ± 0,7 (n=16) mg de peçonha/aranha/extração, para fêmeas e machos, respectivamente]. No entanto, quando a quantidade de peçonha é relacionada ao o peso do animal, os machos possuem maior índice. Além disso, as fêmeas adultas com maior peso apresentaram rendimento de peçonha menor que as mais jovens. A caracterização bioquímicofarmacológica da peçonha revelou através de eletroforese que a peçonha de V. dubius possui poucas proteínas de elevada massa molecular, mas é rica em peptídeos e pequenas moléculas. A peçonha contém bastante hialuronidase, mas é destituída de atividade proteolítica, assim como não foi observada ação hemolítica. No imunoensaio de ELISA, a peçonha apresentou reatividade cruzada com soro antiaracnídico do Instituto Butantan, preparado contra as peçonhas de Loxosceles gaucho, Phoneutria nigriventer e Tityus serrulatus. No entanto, o immunoblotting demonstrou que apenas componentes da peçonha maiores que 30 kDa foram responsáveis por esta reação. A peçonha de V. dubius (10 - 300 µg/mL) foi citotóxica para células leucêmicas em cultura e exerceu forte ação edematogênica (10 µg/sítio causou o extravasamento de 90 ± 20 µL de plasma, n = 4) em pele de ratos, mediada em parte por receptores serotoninérgicos e a formação do óxido nítrico. A peçonha não apresentou significativa toxicidade quando testada em coração semi-isolado de barata. Em músculo liso (íleo de cobaia) a peçonha não causou contratura, mas produziu uma pequena potencialização da ação da bradicinina, e o bloqueio parcial de contrações eletroestimuladas em músculo anococígeo de ratos mediado por uma ação pré-sináptica da peçonha. Em preparação de nervo frênico-diafragma de camundongo, a peçonha (80 µg/mL) bloqueou as contrações por estímulos indiretos (95 ± 6% de bloqueio em 56 ± 28 minutos, n = 3). Uma maior potência de bloqueio foi observada em preparação de biventer cervicis de pintainho, onde 25 µg/mL causou 85 ± 4% de bloqueio de contrações indiretamente estimuladas em 52 ± 6 minutos (n = 4); a peçonha também produziu contratura estável. Além disso, as respostas contráteis desta preparação à Ach e KCl foram diminuídas de forma concentração-dependente pela peçonha. O fracionamento da peçonha resultou em dois grupos de proteínas ativas e um inativo tanto no edema quanto na atividade neuromuscular. Estes dados sugerem que ao menos duas toxinas são responsáveis pelo aumento da permeabilidade vascular local. Além disso, o fracionamento da peçonha indicou a presença de, no mínimo, duas toxinas neuromusculares com ações possivelmente de antagonismo nicotínico reversível e promoção de danos à estrutura funcional muscular, respectivamente. (AU)

Processo FAPESP: 03/10453-0 - Análise histológica do aparato venenífero e caracterização farmaco-bioquimica da peçonha de vitalius dubius (Araneae, Theraphosidae)
Beneficiário:Thomaz Augusto Alves da Rocha e Silva
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Doutorado