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Vulnerabilidade de mulheres que fazem sexo exclusivamente com mulheres e de mulheres que fazem sexo com mulheres e com homens à vaginose bacteriana.

Texto completo
Autor(es):
Mariana Alice de Oliveira Ignacio
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Tese de Doutorado
Imprenta: Botucatu. 2022-04-20.
Instituição: Universidade Estadual Paulista (Unesp). Faculdade de Medicina. Botucatu
Data de defesa:
Orientador: Marli Teresinha Cassamassimo Duarte
Resumo

A vaginose bacteriana (VB) é a alteração mais comum da microbiota vaginal e pode ocasionar repercussões negativas à saúde sexual e reprodutiva da mulher. A literatura aponta elevadas prevalências de VB entre mulheres que se relacionam sexualmente com outras mulheres, o que fundamenta a necessidade de estudo de vulnerabilidade dessas mulheres ao agravo. Não foram encontrados estudos que utilizassem o referencial teórico da vulnerabilidade para analisar essa relação. Assim, o objetivo do estudo foi analisar a vulnerabilidade de mulheres que fazem sexo com mulheres e de mulheres que fazem sexo com mulheres e com homens à VB. Método: estudo transversal que incluiu 453 mulheres, classificadas em três grupos, segundo o tipo de parceria sexual nos 12 meses que antecederam à coleta de dados: grupo 1- 149 mulheres que fazem sexo exclusivamente com mulheres (MSM); grupo 2- 80 mulheres que fazem sexo com mulheres e com homens (MSMH) e grupo 3- 224 mulheres que fazem sexo exclusivamente com homens (MSH). A captação da amostra se deu em dois momentos distintos: de janeiro de 2015 a abril de 2017 e de janeiro de 2019 a janeiro de 2020 junto a dois projetos de pesquisa mais amplos, que investigaram diversos aspectos sobre a vulnerabilidade e saúde sexual e reprodutiva de mulheres que se relacionavam sexualmente com outras mulheres. Os dados foram obtidos por meio da aplicação de questionários, que abordaram as variáveis de interesse e exame ginecológico. O diagnóstico da VB foi realizado por exame microscópico do conteúdo vaginal, corado pelo método de Gram e classificado segundo Nugent et al., 1991 e os diagnósticos de papiloma vírus humano e Chlamydia trachomatis por reação em cadeia da polimerase. A classificação das variáveis de vulnerabilidade foi baseada no quadro de vulnerabilidade proposto por Ayres et al. em 2012. A análise de vulnerabilidade dos grupos à VB foi realizada por comparação das frequências das variáveis de vulnerabilidade e medianas dos escores de vulnerabilidade, empregando-se os testes Qui-quadrado ou Exato de Fisher e Mann-Whitney. A comparação das prevalências de VB entre os grupos foi realizada pelo teste Qui-quadrado. Foram realizadas regressões múltiplas de Cox para verificar se o tipo de parceria sexual se associou à VB e na identificação das variáveis de vulnerabilidade associadas ao agravo em cada um dos três grupos estudados. Diferenças estatisticamente significativas foram consideradas se p < 0.05. Ambas as pesquisas mães das quais este subprojeto foi derivado foram aprovadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu sob os pareceres n° 3.320.951 e n° 820.717. Resultados: A mediana de idade das participantes foi de 26 anos (18-55), a maioria era branca (74,8%), tinha 12 anos ou mais de estudo (76,1%), não vivia com parceria (79,2%) e tinha atividade remunerada (65,1%). As MSM e MSMH apresentaram maior perfil de vulnerabilidade à VB que as MSH, e as MSMH foram as mais vulneráveis à VB quando comparadas aos demais grupos. A análise do escore de vulnerabilidade apontou que as MSMH possuíam mediana de escore de vulnerabilidade significativamente maior que os demais grupos. As prevalências de VB entre MSM e MSMH foram significativamente semelhantes e superiores que a de MSH (35,6%a vs 36,3%a vs 23,2%b; p=0,013). O tipo de parceria sexual não se associou à VB - MSM [1,13 (IC95%: 0,71-1,78); p= 0,613] e MSMH [0,94 (IC95%: 0,56-1,56); p= 0,802]. As variáveis de vulnerabilidade associadas independentemente a esse desfecho foram diferentes entre os grupos estudados: anos de estudo concluídos foi fator protetor à VB [0,91 (IC95%: 0,82-0,99); p= 0,048] entre as MSM; cor da pele não branca [2,34 (IC95%: 1,05-5,19); p=0,037] entre as MSMH e troca de parceria sexual nos últimos três meses [2,09 (IC95%: 1,14-3,82); p= 0,017], o uso inconsistente de preservativo [2,61 (IC95%: 1,10-6,20); p= 0,030] e diagnóstico positivo de C. trachomatis [2,40 (IC95%: 1,01-5,73); p= 0,048] entre as MSH. Conclusão: As MSM e MSMH são mais vulneráveis à VB que MSH, sendo as MSMH o grupo mais vulnerável. As prevalências de VB foram significativamente superiores entre MSM e MSMH quando comparadas às MSH, entretanto, o tipo de parceria sexual não se associou a esse desfecho. As variáveis de vulnerabilidade associadas à VB foram diferentes entre os grupos estudados. Os resultados tomados em conjunto apontam para a necessidade de os profissionais de saúde considerarem o histórico de parceria sexual das mulheres, com vistas à proposição de estratégias eficazes para redução da sua vulnerabilidade a esse agravo. (AU)

Processo FAPESP: 18/14770-6 - Vulnerabilidade de mulheres que fazem sexo com mulheres à Vaginose Bacteriana
Beneficiário:Mariana Alice de Oliveira Ignacio
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Doutorado