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União da raça: Frederico Baptista de Souza e a militância negra paulista no Brasil pós-abolição (1875-1960)

Texto completo
Autor(es):
Lívia Maria Tiéde
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Tese de Doutorado
Imprenta: Campinas, SP.
Instituição: Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Data de defesa:
Membros da banca:
Lucilene Reginaldo; Mário Augusto Medeiros da Silva; Kim Diane Butler; Wlamyra Ribeiro de Albuquerque
Orientador: Lucilene Reginaldo; Daniel Barros Domingues da Silva
Resumo

Esta tese demonstra as mudanças e continuidades do movimento negro paulista inicial por meio da vida de Frederico Baptista de Souza (1875-1960). Embora ele seja mencionado em estudos anteriores, este é o primeiro trabalho escrito inteiramente sobre ele. Trabalhos acadêmicos antecedentes reduziram a trajetória de Frederico ao ativismo na imprensa negra, entre 1916 e 1924. Ao expandir essa perspectiva, meu trabalho traz contribuições inéditas para a compreensão da mobilização negra brasileira; faz isso oferecendo uma nova perspectiva sobre a linha do tempo e os fundamentos conceituais do movimento. Ao explicar o ativismo de Souza, mostro que o movimento negro brasileiro não foi um fenômeno isolado no pós-abolição, pois se originou diretamente do catolicismo liberal dos abolicionistas do século XIX. A partir dessa ideia, Frederico e outros "homens de cor" formaram o Grêmio Kosmos, uma organização exclusivamente para negros brasileiros – fato que ilustra as agudas tensões raciais entre esse grupo e os imigrantes europeus. Frederico foi o principal líder desse grêmio desde sua fundação em 1908 até suas últimas atividades em 1932. Além disso, avanço na produção existente ao mostrar que o ativismo de sujeitos como Frederico não terminou nas primeiras décadas do século XX. Ele participou de sindicatos, partidos políticos, clubes recreativos e contribuiu para vários jornais negros até o final de 1930. Frederico coordenou, produziu e editou jornais, e também – ao lado de ativistas mais jovens – organizou uma coalizão de sociedades de negros brasileiros. Antes da formação da Frente Negra Brasileira (1931), ele buscou meios democráticos de reunir associações negras divergentes para criar a "união da raça". Frederico defendeu o "levantamento", ou em inglês uplifting, durante uma época em que a grande imprensa posicionava Booker T. Washington como um exemplo de que o legado da escravidão não impedia o avanço social dos negros brasileiros. É verdade que, em comparação com a mãe que foi uma mulher escravizada, o trabalho de Frederico rendeu sucesso econômico, ainda que modesto. No entanto, sua história de vida mostra como os brasileiros negros cada vez mais reconheceram que seguir o exemplo de Booker T. Washington era insuficiente para progredir social e economicamente. A elite brasileira retratou Booker T. Washington como o "grande líder negro", mas Frederico afirmou que, apesar da igualdade legal, os negros brasileiros não gozavam de justiça social. Não foi a incapacidade – como alegavam os eugenistas – que levou à desvantagem social dos negros, mas foi a consequência da cidadania não compensada que acompanhou a abolição. O afastamento de Frederico do liberalismo de Booker T. Washington e do hiper nacionalismo da Frente Negra Brasileira evidencia a natureza pluralista e dinâmica do ativismo negro brasileiro no século XX. Por fim, ao traçar a trajetória de vida de Frederico, ilustro como as ideias de combate ao racismo evoluíram ao longo do tempo. Argumento que decifrar a experiência dele é fundamental para compreender o movimento negro brasileiro. Isso porque sua história mostra como as conexões com outras partes da diáspora negra foram reinventadas e apropriadas de acordo com as necessidades locais na luta contra o preconceito (AU)

Processo FAPESP: 17/12859-7 - O associativismo negro visto pela trajetória de Frederico Baptista de Souza - São Paulo (1870-1940)
Beneficiário:Livia Maria Tiede
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Doutorado