Busca avançada
Ano de início
Entree


Mercado de linguas : a instrumentalização brasileira do portugues como lingua estrangeira

Texto completo
Autor(es):
Leandro Rodrigues Alves Diniz
Número total de Autores: 1
Tipo de documento: Dissertação de Mestrado
Instituição: Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Instituto de Estudos da Linguagem
Data de defesa:
Membros da banca:
Maria Teresa Celada; Maria Onice Payer
Orientador: Monica Graciela Zoppi Fontana
Resumo

Filiando-nos à História das Idéias Lingüísticas, na sua articulação com a Análise do Discurso de perspectiva materialista, estudamos a construção discursiva do português do Brasil como língua estrangeira (PLE), a partir da ampliação de seu ¿espaço de enunciação¿ (GUIMARÃES, 2002). Para tanto, investigamos duas instâncias da gramatização (AUROUX, 1992) brasileira do português ¿ os livros didáticos (LDs) de ensino de PLE e o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras) ¿, aqui concebidos como instrumentos lingüísticos, que se encontram no cerne do que Orlandi (2007a) denomina ¿política de línguas¿. Após um mapeamento da produção editorial brasileira de LDs de PLE desde a primeira publicação na área ¿ que nos permitiu observar interessantes mudanças diacrônicas ¿, constituímos nosso corpus para o estudo desses materiais. Para a investigação do Celpe-Bras, concentramo-nos nos manuais do exame e em uma entrevista com um ex-membro da comissão técnica do Celpe-Bras. Nosso estudo indica que a configuração do Mercado Comum do Sul (Mercosul), em 1991, pode ser vista como o marco de um novo período no processo de gramatização brasileira (ZOPPI-FONTANA, 2007). Tal período é caracterizado por um gesto político do Estado brasileiro em relação à inclusão do português do Brasil em um espaço geopolítico transnacional, que se reverbera em diferentes iniciativas da sociedade civil. Constitui-se, assim, uma posição de autoria para o Estado/cidadão brasileiro. Percebemos, ainda, que o português é freqüentemente significado como uma língua ¿do mundo da comunicação¿, de ¿troca comercial¿, que ¿está em toda parte¿. Assim, ele é antes representado como uma língua veicular (GOBARD, 1976) do que como uma língua de integração regional. Trata-se, porém, de uma representação específica de língua veicular, ligada ao avanço do ¿capitalismo mundial integrado¿, nas palavras de Guattari (1987). ¿Dominar¿ o português aparece, por exemplo, relacionado ao sucesso, recompensa prometida àqueles que obedecem às ¿leis do Mercado¿, em tempos contemporâneos (PAYER, 2005). Além disso, não se representa o português como uma língua ¿neutra, objetiva, despojada de suas especificidades étnicas¿ (GOBARD, op. cit., p.36). Ao contrário, observamos o funcionamento de um ¿discurso de brasilidade¿, através do qual, de uma maneira ou de outra, faz-se sempre alusão ao Brasil ¿e não a Portugal ¿, o que evidencia o trabalho de uma política do silêncio (ORLANDI, 2002b). Em termos de Mercado, esse discurso permite ¿vender¿ a língua portuguesa, enquanto instrumento para se atingir um objetivo outro, e, por conseguinte, ¿vender¿ os ¿produtos¿ em questão: os LDs e o Celpe-Bras. Em relação ao Estado, percebemos que o Brasil, marcado por políticas lingüísticas portuguesas, passa a disputar com Portugal espaços políticos, simbólicos e econômicos. Concebemos, assim, o português do Brasil não como uma língua globalizada, mas como uma língua transnacional, na medida em que ele se ¿exporta¿ como metonímia do Estado brasileiro. Concluímos, ainda, que a gramatização brasileira do PLE se configura a partir da relação entre as duas meta-instituições que, segundo Payer (op. cit.), desempenham um papel fundamental na constituição do sujeito contemporâneo: o Estado e o Mercado (AU)

Processo FAPESP: 05/57352-0 - Mercado de linguas: a instrumentalizacao brasileira do portugues como lingua estrangeira.
Beneficiário:Leandro Rodrigues Alves Diniz
Modalidade de apoio: Bolsas no Brasil - Mestrado