Cenografia e Paisagem Urbana: um estudo de caso na cidade de São Paulo

Resumo

Em 1935, o arquiteto Rino Levi se referia ao Vale do Anhangabaú como "um dos pontos mais cenográficos da cidade". Exultava "a harmônica grandiosidade da obra humana e da natureza" reunida no recinto cuja história recente havia sido marcada por uma sucessão de vertiginosas intervenções, impulsionadas pela construção do primeiro Viaduto do Chá - inaugurado em 1892 - e que, por fim, levavam a substituição do Viaduto por um novo, que melhor coadunava com o ideal de modernidade da São Paulo industrial, mas que guardaria em seu nome a memória dos anos em que o Vale era ainda povoado por chácaras nas quais se destacava a cultivo do chá.Para o desenvolvimento da presente pesquisa, propõe-se que o conjunto dessas intervenções sejam historicizadas e analisadas sob a perspectiva de uma questão central: compreender como a idéia de cenografia esteve atrelada aos diferentes momentos dessa história, questionando de que maneira e em que medida arquitetos, urbanistas, engenheiros, escultores, pintores e fotógrafos se relacionaram com o aspecto geográfico do local, tirando ou não partido em suas obras do potencial pitoresco de um vale que corta o centro da metrópole.Serão abordadas as décadas que se estendem entre os debates que culminaram na construção do Viaduto do Chá, no século XIX, e o fim da primeira gestão do prefeito-urbanista Prestes Maia, em 1945. O projeto é transpassado por múltiplas temporalidades, pois busca investigar e relacionar um recorte temporal extenso e que se distingue pelo intenso processo de mudança vivido pela cidade de São Paulo e sua sociedade, processo cujos reflexos sobre o Vale do Anhangabaú foram absolutamente notáveis e que levaram a sua conformação como "a sala de visitas" da cidade.