Isolamento e identificação de micobactérias provenientes de água bruta e sistema de tratamento da Fundação Parque Zoológico de São Paulo

Resumo

Atualmente, o gênero Mycobacterium possui 149 espécies que podem ser divididas em dois grandes grupos, o primeiro inclui patógenos estritos para o homem como os membros do complexo M. tuberculosis e M. leprae e não são encontrados no ambiente. O segundo grupo consiste de micobactérias potencialmente patogênicas ou saprofíticas comumente denominadas micobactérias não tuberculosas (NTM). Este grupo é encontrado em ambientes compartilhados por humanos e animais especialmente ambientes aquáticos e água tratada, mas também em solo. Este fato é o maior determinante na aquisição da doença. Dentre estas espécies, 63 (42,28%) foram descritas a partir do ano 2000. Apesar desta profusão de novas espécies, cerca de 30% dos isolados provenientes de água, solo, ar e pacientes não puderam ser identificados por métodos fenotípicos e moleculares revelando a grande diversidade deste grupo de bactérias e a existência de espécies ainda não descritas e/ou que estas técnicas não são discriminativas o suficiente para identificação de amostras ambientais. Outro fato que contribui para escassez de conhecimento na área é que não há um consenso de qual é o melhor método de isolamento e cultivo para amostras ambientais. Além do interesse na área médica, há alguns anos as micobactérias ambientais começaram a despertar interesse em outras áreas como exemplo podemos citar a biorremediação de solo e água contaminados com hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HPA). Este projeto tem como objetivos a padronização de técnicas de isolamento e cultivo de micobactérias provenientes de amostras de água bruta, água tratada e de efluente da Fundação Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP); identificação de micobactérias cultivadas por características fenotípicas e técnicas moleculares (PRA-hsp65 e sequenciamento de genes essenciais), verificação da biodiversidade e prevalência destas bactérias, construção um banco de isolados para preservação e estudos futuros. Em 2009, foi firmado um Acordo de Parceria entre a Fundação Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP) e a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) para desenvolvimento de um programa de pesquisa em microbiologia aplicada. O objetivo geral desta parceria é conhecer, caracterizar e preservar microrganismos provenientes de diversos habitats do parque. A FPZSP foi criada em 1957, atualmente, o Parque Zoológico ocupa uma área equivalente a cerca de 83 ha de jardins, vias de acesso, áreas arborizadas e áreas florestais, que são habitação para mais de 3.200 animais. Trata-se de verdadeira ilha florestal em meio a região intensamente urbanizada. As várias nascentes existentes no parque são formadas pelo afloramento do lençol freático e dão origem às drenagens do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI). As nascentes do PEFI constituem as cabeceiras do riacho do Ipiranga, as quais abastecem, em seu trajeto, nove lagos. Estes ecossistemas aquáticos foram aproveitados como viveiros de aves, inclusive de espécies migratórias, formando fauna paralela e uma riqueza microbiológica incalculável. Desde 2006 a FPZSP possui a certificação do Sistema Ambiental ISO14001, e em 2007 inaugurou as Estações de Tratamento de Água (ETA) e de Efluentes (ETE). A ETE faz a recepção e tratamento da água dos recintos dos animais misturada a dejetos, águas servidas e esgoto, resultando em efluente e resíduo sólido (lodo). A ETA faz a recepção e tratamento das águas dos lagos e efluentes provenientes da ETE, resultando em água de reuso e resíduo sólido (lodo). Diante destas características, a FPZSP representa um local adequado para o estudo da biodiversidade de micobactérias ambientais isoladas de sistemas naturais e de distribuição de água. (AU)