Reflexões sobre a metacontingência e conceitos adjacentes: origem, redução e emergência

Resumo

Não há, na análise do comportamento, consenso quanto à pertinência e à utilidade do modelo de explicação de fenômenos sociais fundado no conceito de "metacontingência": a analogia entre seleção natural e seleção cultural, proposta por Skinner e desenvolvida por Glenn, seria problemática; o conceito de metacontingência não seria necessário para explicar fenômenos sociais; a proposta não seria parcimoniosa, pois complicaria a análise ao invés de torná-la mais simples. Por outro lado, defende-se que a metacontingência seja relevante por abranger outro "tipo" de seleção para além da seleção natural e seleção operante. Por ser de outro tipo, a seleção cultural não seria redutível à seleção operante, ainda que os processos culturais sejam emergentes de relações comportamentais individuais. Acreditamos que o debate sobre a pertinência do modelo de Glenn expõe questões que demandam não só trabalho empírico, mas também reflexão teórica. Nesse contexto, são dois os objetivos do presente trabalho: (a) analisar a origem e o desenvolvimento do conceito de metacontingência através do estabelecimento de paralelos com o conceito de operante. Essa atividade, além de criar condições para o esclarecimento do próprio conceito de metacontingência e de seus conceitos adjacentes, também pode contribuir para a discussão dos problemas e das críticas associadas ao modelo; e (b) analisar a natureza da relação entre contingência e metacontingência no contexto do segundo e terceiro níveis de seleção. Essa reflexão terá como fio condutor dois dos argumentos principais em defesa do terceiro nível de seleção, a saber, o seu caráter "emergente" em relação ao nível operante e a suposta impossibilidade de redução do terceiro ao segundo nível. Reducionismo e emergência são dois temas centrais em Filosofia da Ciência. Portanto, traremos essa literatura filosófica para a discussão das relações entre esses dois níveis de seleção. (AU)