Imprensa negra e imprensa operária: experiências e tensões entre os trabalhadores na São Paulo da Primeira República (1915-1930)

Resumo

Partindo da análise de órgãos da imprensa operária (A Plebe) e da imprensa negra (O Clarim da Alvorada), o presente trabalho busca identificar as experiências, atuações políticas e conflitos entre diferentes grupos de trabalhadores na São Paulo do pós-abolição imediato: negros e imigrantes e seus descendentes. Ainda que dentro do mesmo contexto, convivendo nos espaços da mesma cidade e em posições de subalternidade, negros e imigrantes ocuparam postos distintos de trabalho e vivenciaram situações diferentes. Estes se inseriram nos setores mais dinâmicos da incipiente industrialização paulista, enquanto os primeiros esbarraram em dificuldades e preconceitos para ingressar no mercado de trabalho formal e ocuparam postos mais precarizados. Tal diferenciação refletiu em projetos de luta, identidades e objetivos distintos entre esses trabalhadores, diretamente canalizados pelos órgãos de imprensa analisados. Enquanto imigrantes e operários buscavam uma união classista e um projeto de enfrentamento à sociedade burguesa nos moldes tradicionais da esquerda europeia; a população negra enfrentava problemas particulares, ligados à desigualdade e discriminação racial, lutando por direitos iguais e integração social. Em seus discursos, eventualmente as imprensas dialogaram e se confrontaram, fato que sugere uma relação tensa e conflituosa entre esses trabalhadores, a qual contribuiu para a formação de uma classe heterogênea e fragmentada. Toma-se aqui uma noção amplificada de classe trabalhadora, tal como é pensada desde autores da História Social Inglesa, não restrita apenas ao operariado fabril ou aos trabalhadores sindicalizados. (AU)