Aporte, degradação e transporte de matéria orgânica em áreas alagáveis no baixo Rio Amazonas: implicações para reconstituição de mudanças ambientais no Quaternário e para o balanço regional de carbono

Resumo

O Rio Amazonas é responsável por aproximadamente 20% da descarga anual de água doce nos oceanos, sendo também reconhecido como importante fonte de sedimentos terrígenos para o Atlântico e carbono para a atmosfera na forma de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4). Materiais orgânicos de origem terrestre ou aquática são continuamente transportados, processados e depositados ao longo do Rio Amazonas, cuja degradação gera CO2 e CH4 que podem ser emitidos para a atmosfera. Desta forma, grande parcela dos sedimentos orgânicos captados pelas drenagens do alto e médio curso do Rio Amazonas é degradada ainda em águas continentais. No entanto, a fração remanescente composta principalmente de material orgânico refratário é carreada até áreas oceânicas. O baixo curso do Rio Amazonas é caracterizado por complexa malha de canais fluviais e de marés circundados por florestas alagáveis e representa a conexão direta entre águas e sedimentos continentais e o oceano Atlântico equatorial. Extensas áreas florestais estão sujeitas a inundação sazonal e diária devido à influência do Sistema de Monção Sul-Americana e da maré, respectivamente. Desta forma, esta área também representa importante fonte de carbono particulado e dissolvido que é exportado através dos diversos canais secundários até o canal principal do Rio Amazonas e, por fim, ao oceano. Ambientes aquáticos e de inundação amazônicos apresentam reconhecida eficiência na degradação do material orgânico, com consequente geração de CH4 nos solos e sedimentos anóxicos de áreas alagáveis e/ou CO2 na coluna d'água. A inter-relação entre as características hidrológicas e biogeoquímicas desta região fazem dela um elemento crítico para transferência da matéria orgânica particulada ao oceano e uma potencial fonte de CO2 e CH4 para a atmosfera, com relevância no balanço do carbono em escala regional e global. No entanto, há diversas lacunas para compreender os processos que regem a geração e degradação de matéria orgânica no baixo Amazonas, principalmente sobre as variações espaciais e temporais. Desta forma, os objetivos deste trabalho incluem determinar as fontes da matéria orgânica dos sedimentos do baixo Rio Amazonas e quantificar a concentração de diferentes formas de carbono geradas pela degradação dos sedimentos orgânicos, representadas por Carbono Orgânico Dissolvido (COD), Carbono Inorgânico Dissolvido (CID), CO2 e CH4 das áreas de floresta alagável, canais secundários e o canal principal do Rio Amazonas. Também, será quantificada a emissão de CO2 e CH4 para a atmosfera nestes diferentes setores. Isto permitirá a elaboração de modelo de balanço de carbono do baixo Rio Amazonas, tema do projeto SPEC ""Pontos cegos biogeoquímicos ao longo do continuum do baixo Rio Amazonas: da terra para a atmosfera e oceano"", processo 2018/18491-4"". Além disto, entender a origem do carbono orgânico particulado e sua alteração no baixo Rio Amazonas antes da transferência ao oceano são fundamentais para calibrar indicadores de condições paleoambientais aplicados aos componentes orgânicos de sedimentos que serão amostrados pelo Trans-Amazon Drilling Project (FAPESP 2018/23899-2), cuja meta é reconstituir a história ambiental da Amazônia. (AU)